quarta-feira, 24 de agosto de 2011

Cem, cento e vinte

As férias foram marcadas por vários incidentes médicos, todos sem gravidade. O mais dramático foi quando o destino, finalmente, me fez retirar os suportes das velas da casa de banho. Como é que ele agiu? Fez-me partir um deles, em vidro e, não contente, espetou-me alguns dos vidrinhos no meu belo calcanhar.
A gata borralheira andava descalça quando sentiu uma dor forte e percebeu que o calcanhar tinha engolido um vidro. Aquilo desatou logo a sangrar e ela, apoiada na ponta do pé, como se fosse o Cisne Negro mas coxo, foi buscar a pinça das sobrancelhas, armou-se em contorcionista de circo, alçou da pernoca e apenas conseguiu meter o vidro ainda mais dentro.
Ora isto é uma chatice em qualquer altura do ano, mas pior ainda em Agosto quando não há vivalma a quem se possa pedir ajuda, tudo a banhos nos Algarves e nas Costas e por aí.
Atei uma ligadura ao pé para segurar o sangue, agarrei na chave do carro e sai em direcção ao centro médico, conduzindo muito devagar e sempre em pontas. Quando cheguei veio-me à ideia um homem lá do Alentejo a quem chamavam o Cem, cento e vinte, por coxear. Só nessa altura me dei conta que a sola dos pés parecia a última folha do catálogo da Robbialac, o preto, mas como aquilo doía cada vez mais, depressa me esqueci da vergonha.
A enfermeira lavou-me o pé e depois de duas anestesias de spray que mais parece um bronzeador, a médica achou por bem anestesiar-me doutra forma pois aquilo não pegava. Finalmente, tirou-me 3 Muranos, uma fortuna deitada para dentro do saco do lixo hospitalar e com destino ao fogo, ironicamente.
Sosseguei quando a senhora doutora me disse que podia ir à praia. Comprei de enfiada uns pensos impermeáveis e para não correr o risco de me acontecer mais nada, deitei-me na areia frente ao mar e ali fiquei até ser quase noite.

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