terça-feira, 30 de agosto de 2011

Dom Casmurro

Acabei de ler esta pérola no fim-de-semana e não acredito que Capitu tenha estado em vale de lençóis com o grande amigo de Bentinho. A ser, a coisa foi rápida e não meteu cama, que tempo não havia sem levantar suspeitas, logo, afasto oficialmente os lençóis.
Machado de Assis foi primoroso a criar a teia e deixa a dúvida perdurar que nem pilhas duracell, até hoje, até sempre.
Deliciei-me com as promessas de Bentinho e com os superlativos do agregado José Dias; dei asas ao romantismo com aqueles olhares silenciosos que diziam tudo, ao invés do explícito que se apoderou da actualidade e que impede as emoções de fazerem mais que aflorar a pele, quando muito. Há deficit emocional nos dias de hoje, sabemos que o fogo é quente mas é uma espécie de conhecimento conceptual, não prático, desconhecemos o sentido do calor do fogo na pele, cá dentro, como uma tabuada decorada mas não sabida salteada. Consequentemente, as conversas sobre o amor entre pessoas de diferentes gerações nem com um tradutor lá vão: uns falam de sentimentos profundos, tão profundos que duravam vidas e não tinham espaço para outras pessoas, grandes e fundos como a Fossa das Marianas, mas cheios de densidade e entrega. Outros falam de sexo e já está. Quando muito são como um dente-de-leão que à menor brisa se desfaz, sem deixar vestígio que existiu.

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