segunda-feira, 6 de junho de 2011

Toalha de praia com riscas verdes verticais

Vou sentada a ler. De repente vejo uma das minhas toalhas de praia a entrar na carruagem do metro. Apoia-se nos ombros duma mulher e desce-lhe pelo corpo, tapando-lhe o rabo. É grande, eu sei, conheço-a bem pois uso-a há anos.
Toda a minha atenção está centrada na toalha a quem não me recordo ter dado autorização para se ausentar de casa. A mulher tem um ar descomprometido onde leio que foi a toalha a ir ter com ela e não o contrário.
Que fiz eu? Ainda ontem a lavei procurando um programa onde a centrifugação não desse muitas voltas! Será do amaciador?
As minhas toalhas de praia nunca estão no escuro, vêm a luz do dia o ano inteiro, assim como os bikinis e demais acessórios de praia, sempre a espreitarem assim que se abre uma gaveta. As toalhas nem em gavetas estão e sim em prateleiras cujo conteúdo está à mostra; nunca as olho como peças em cemitérios ainda que temporários, fazem-me falta o ano inteiro, só de as olhar já me sinto melhor, principalmente naqueles dias em que se reinventam cinzentos-escuros em céus que, como toda a gente sabe, são azuis!
O cheiro duma toalha de praia é único. É daqueles cheiros que se absorvem e ficam cá dentro, em memória, principalmente se os aspirarmos com os olhos fechados.
Cogitava eu acerca da ingratidão, quando ouço a toalha rir-se e dizer-me:
-Não sou quem pensas e, sim, esta senhora tem gostos esquisitos… para além de mim, irmã da tua toalha de praia, e agora feita manta, tem uma saia feita duma toalha de mesa e um casaco que em tempos foi uma toalha de renda.
Credo… tanta toalha, penso eu.
A toalha de praia continuou:
-Mas não se fica por aqui: a gabardina era uma antiga toalha de plástico e ela usa como bloco-notas um maço de toalhetes. Tem um cachecol feito de uma toalha de baptismo e já ouvi lá por casa histórias perversas com toalhas de rosto mas nem quero pensar nisso…
- Próxima estação: Marquês de Pombal!
Levanto-me para sair. A toalha sorri-me abanando levemente as pontas e dizendo adeus.

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