quarta-feira, 8 de junho de 2011

(In)Disponibilidade

A indisponibilidade dos amigos é um contra-senso? É, a menos que sejamos nós a criá-la. A menos também que chamemos amigos a pessoas que conhecemos há muito tempo, vários anos, para as quais estamos disponíveis mas onde o vice-versa não é bem assim.
Um determinado problema que nos cria ansiedade em discuti-lo, partilhá-lo e torná-lo mais leve pode acabar por ser guardado a sete chaves.
Vamos contar a alguém que anda feliz da vida com olhos brilhantes, que só vê cores suaves e no meio dessa felicidade reencaminha todas as conversas para as nuvens onde vive?
Vamos contar a alguém que tem um problema semelhante, mas mais grave e, dessa forma, vamos lembrá-lo que ele não faz nada para solucionar o seu próprio problema?
Vamos contar a alguém que se cansa de nos convidar para estarmos juntos e nós dizemos sempre que sim, mas nunca arranjamos tempo para mais do que um telefonema?
Vamos contar a alguém que, sempre que falamos com ele, nos vai dizendo como anda atarefado e atira-nos com as suas mil missões impossíveis antes mesmo de termos terminado o nosso Olá?
Vamos contar a alguém que só sabe falar dum assunto e aproveita todos os intervalos da chuva para se esgueirar para essa posição de conforto?
Vamos contar a alguém que nos ouve e responde invariavelmente com um pois, é a vida…?
Vamos contar a alguém que sentimos que nos ouve como se pagasse uma dívida?
Qualquer um destes bateria a pala na entrada duma festa, dum jantar, duma comemoração; são bons foliões. Quase todos viriam a meio da noite se telefonasse a pedir ajuda; são bons bombeiros. Alguns viriam sem sequer perguntar porquê; são bons católicos. Um ou outro consegue discernir na minha voz que a vida está armada em cabra; são perspicazes. Há quem insista; é militante. Mas estar verdadeiramente comigo, estar mesmo, só a solidão. Nunca a mando embora pois faz-me companhia.

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