sexta-feira, 3 de junho de 2011

Morra a indiferença!

Quarta-feira, final do dia. Conduzo e converso com uma amiga que vem a meu lado. De repente, um homem que caminha no passeio cai, ficando atravessado na estrada.
Estou parada no semáforo e espero dois segundos, é o tempo que dou ao homem e a mim própria para verificar se apenas tropeçou e, se assim fosse, levantava-se, ou se precisa de ajuda. Precisou de ajuda.
Os dois segundos ainda não tinham passado, o homem estava deitado com o corpo metade na estrada e metade no passeio, quando passa um táxi em sentido contrário que LITERALMENTE se desviou da cabeça do homem, deitada no alcatrão, e continuou a sua marcha.
As pessoas que auxiliam o homem são três: uma mulher que vinha atrás do taxista, a minha amiga e eu.
O homem está bêbado. Da porta taberna de onde saiu – eu vinha devagar e por mero acaso vi o homem sair da taberna – os rostos alinham-se a olhar, de braços cruzados.
Pára uma rapariga que se põe a telefonar a pedir ajuda.
Pergunto às caras que olham da porta da taberna se o homem saiu de lá. Pergunto com raiva, sabendo que os vou ouvir mentir e na mentira anunciada aumentar ainda mais a minha raiva. E eles fazem-me a vontade. O coro diz, Não, aqui não esteve.
Junta-se mais um rapaz, pouco mais que um adolescente e sugere a organização dos carros que impedem o movimento da via nos dois sentidos.
Puxamos o homem para cima do passeio que estava limpo em comparação com o nojo que permanecia à porta da taberna. Impávido.
Não era um homem que estava deitado no chão, era um resto, um desperdício, cuja última utilidade fora pagar o álcool que consumira naquele estabelecimento. A partir daí, é cinza que sopramos para longe de nós.
Não posso afirmar que bebeu naquele sítio, não vi. Mas se não o tivesse feito o crápula que estava à porta teria afirmado isso mesmo, Ele entrou já embriagado e eu não lhe vendi nada…
Mais que ver a miséria humana ali condensada e estendida no chão, custou-me ver a indiferença e, pior, um certo brilho no olhar que denunciava as palavras, É para aprenderes…
O meu carro era o que mais incomodava o trânsito, intenso aquela hora. Sem sítio para parar em condições de segurança acabei por deixar o homem com o cuidado dos outros que se preocuparam com ele, poucos, mas atentos.
Deixei a minha amiga em casa e fui à polícia.
Posso aborrecer-me com certas pessoas, posso zangar-me com o meu filho, posso perder amigos, posso ser criticada de todas as formas e feitios, mas há alguém com quem eu tenho que viver em paz, com a minha consciência.

2 comentários:

  1. «Pergunto com raiva, sabendo que os vou ouvir mentir e na mentira anunciada aumentar ainda mais a minha raiva. E eles fazem-me a vontade. »

    Bom fim-de-semana :)

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