quarta-feira, 2 de março de 2011

A carta

Recebi uma carta. Li-a e reli-a.
Qualquer um dos meus poucos amigos se a lesse convencer-se-iam que tinha sido eu a escrevê-la.
É sobre livros, sobre febre de leitura, sobre frustração de não poder ler mais, de não conseguir.
É sobre este vício do qual tanta vez falo e que me acompanha desde que aprendi a ler.
É sobre os amigos tão preciosos vestidos de capa dura ou capa mole, quantas vezes maiores e melhores do que os que têm pernas.
É sobre magia, sobre riqueza acumulada, sobre sabedoria, sobre tudo e sobre nada.
É sobre cumplicidades, como as que se estabelecem mudas entre pessoas que têm as mesmas doenças e conhecem o outro. Sabem o que pensa e o que sente.
É sobre insatisfação e desassossegos de quem permanentemente conversa com vivos e mortos, se ri e chora em viagens sem fim, nunca acabadas, cada qual a melhor, a mais bela, todas melhores e belas porque são diferentes. Mas são nossas, fazem parte dos trilhos que percorremos. São cicatrizes perpétuas.
A carta é sobre o amor. Amor incondicional, amor para sempre, amor fraterno por desconhecidos que rapidamente se tornam melhores amigos e nos esperam diariamente sem pedir nada em troca.
Não tivesse eu tanto azar aos amores e responderia a esta carta apenas com uma pergunta: queres casar comigo?

2 comentários:

  1. Acho extraordinário a capacidade de "Areia ás Ondas" utilizar um pequeno texto descritivo sobre uma outra carta recebida, e, num texto tão bonito, conseguir dizer que se gostou do que se leu sem o escrever taxativamente. Sinceramente fico maravilhado com o seu poder de escrita e particularmente comovido com este pequeno texto sobre mim, ao fim e ao cabo sobre mim. Permita-me que o copie e leve comigo. À sua pergunta eu não posso responder já que ela, obviamente, não foi formulada com esse sentido, foi a forma mais bonita e inspirada que teve de dizer que gostou da carta. Fico contente por não ter sido impertinente que era o meu receio de ser entendido. Mas sobre o amor e o casamento muito à a dizer, e a talho de foice, devo confessar que ainda não percebi, psicologicamente falando, porque só podemos amar/casar com uma só mulher de cada vez...

    ResponderEliminar
  2. Tinha a certeza que entenderia, por isso escrevi o que escrevi. Sobre a parte final do seu comentário, apenas alteraria uma 'coisinha': amar/ casar com uma só pessoa de cada vez... bem vejo que escreveu no seu ponto de vista, de homem, mas como concordo consigo, assim fica mais abrangente. :)

    ResponderEliminar