Não sei em que estação entrou mas quando a olhei
vi uma senhora velha como o tempo. Sorri-lhe e disse-lhe, sente-se aqui. A rapariga ao meu lado, na coxia, levantou-se
imediatamente e disse não ser necessário, que ela dava o lugar. A senhora
sentou-se, baixinha, gordinha, com um lenço colorido na cabeça com ar de ser tão
ou mais antigo que ela. Os pés balouçavam-lhe numa imagem de ternura profunda,
tão profunda como o tempo que ela carregava. E foi com os pés a balouçar que
ela me tocou no braço e agradeceu e tocou no braço da rapariga e voltou a
agradecer. Não fizemos mais que a nossa obrigação, disse eu sorrindo e olhando
a rapariga que concordou a sorrir também.
Já são 96 anos
minha senhora, 96 anos minha menina, repetiu olhando a jovem. Sabe, eu vendi jornais e tabaco num quiosque na Baixa desde 1949 e
agora, olhe, tenho boa cabeça e gosto de ir passear à Baixa.
Disse-lhe que fazia muito bem, dei-lhe os parabéns,
eu, a rapariga, alguns outros companheiros de viagem, de tal forma que pouco
faltou para receber 96 vezes parabéns, felicitações que ela recebeu sorrindo,
apertando-me levemente o braço com uma mão com tantas rugas como uma preciosa
peça de filigrana.
Ela com 96, eu com 48 e a jovem com cerca de 20, formávamos um triângulo de tempos sorrindo. Foi uma excelente viagem.
Não tenho a menor dúvida;)
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