Atingindo a idade de
reforma uma amiga mudou-se de Lisboa para o Algarve. Estando a casa de praia já
mobilada fez o enorme favor de distribuir os móveis da capital pelos amigos. Assim,
vi-me com duas peças novas lá em casa, mais uma mobília de quarto para os meus
pais e outra para a I. e uma máquina de lavar loiça para a minha irmã.
Este fim-de-semana não
meti o nariz na rua e pintei um dos móveis, forrei as gavetas do outro com um
papel primaveril onde os puxadores – todos diferentes – assentaram que nem uma
luva. Forrei as gavetas do meu quarto com um tecido pelo qual me tinha
apaixonado há meses e que andava a vaguear pelo armário, sem saber bem o que
lhe fazer, mas morrendo de amores por ele.
Troquei o papel de
parede que forrava a caixa do estore do quarto do Duarte, troquei-lhe os
cortinados e fui desenterrar uma colcha velha que, tudo junto, fez um quarto
novo.
Mesmo com luvas, colei
os dedos várias vezes e usei litros de diluente. Dei cabo das unhas e das mãos
que ficaram ásperas como as de um marinheiro.
Aproveitando o domingo
soalheiro lavei cobertores e colchas e almofadas e tudo. Os quartos parecem outros,
o ar renovou-se e a alma da casa está sorridente.
Embora o tempo pareça parado e a Primavera que já devia ter chegado continue a ser uma esperança, dentro de mim ela está viva e respira.
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