Não, não é só o nome de uma canção da Elis Regina.
Ontem na plataforma do metro estava um bêbado tão
bêbado que temi caísse à linha. Fui chamar um vigilante mas o metro chegou primeiro
e o homem entrou, de mochila às costas, chapéu-de-chuva e uma garrafa de tinto
na mesma mão.
Os lugares iam razoavelmente ocupados e várias
pessoas seguiam em pé. Uma jovem de arma em punho, perdão, de telemóvel em
riste tentava equilibrar-se e mandar mensagens escritas em simultâneo, o que a levava a estar
aos solavancos para a frente e para trás.
O homem embriagado cantava e dizia repetidamente
olá a toda a gente.
Caminhando muito devagar na carruagem, de repente, deu com os olhos na jovem cuja mensagem continuava a
sair-lhe das pontas dos dedos.
O homem olhou a rapariga, esticou o pescoço, abriu
muito os olhos, abriu os braços. Enquanto isto ela desengonçava-se alheia ao
resto do mundo, com ar de quem está a salvar o planeta com um sms.
O bêbado, virou-se devagar para a parte da
carruagem que levava mais pessoas e disse em voz arrastada, como quem conta um
segredo:
- Eu trago a garrafa aqui à mostra, ela tem uma
escondida, acreditem em mim.
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