sexta-feira, 8 de março de 2013

Dia da Mulher


Respeito com vénia as razões que levaram a esta comemoração e arrepio-me ao pensar nelas, tenho vertigens só de saber que a História se repete um pouco por todo o lado ainda hoje.
Mas só me lembrei que era Dia da Mulher quando um aluno me entrou no gabinete a pedir um chapéu-de-chuva emprestado e me parabenizou. Agradeci.
É Dia da Mulher para as novas e para as velhas, solteiras e casadas, mães, tias e irmãs. É Dia da Mulher para as vivas e para as mortas. A Paula faria ontem anos se fosse viva.
Lembro-me do dia que a conheci, de pele muito branca, mulher enorme em tamanho e em interioridade, dois anos mais velha que eu, a querer muito, muito, muito ser mãe, a natureza a contrariá-la, ela a teimar e a adoptar uma criança, mas afinal quem é que manda aqui?
Mulher de convicções, de pulso firme e grande cabeleira ondulada que se movia como uma montanha quando ela se ria. Pessoalmente nunca fui alvo da sua ira, mas assisti a vários confrontos e não são bons de lembrar pois se era a pessoa mais divertida do mundo quando estava bem-disposta, era terrível em dias maus.
Já naquela altura eu era apaixonada por baleias e andava sempre a dizer que queria ir aos Açores, mas não tinha dinheiro. Lembro-me que estávamos no café do António a almoçar, uma tasca espectacular, pelo dono, pelos empregados e pela frequência. Quando repeti a conversa das baleias a Paula olhou-me com seriedade coreografada e disse-me que não era preciso ir aos Açores pois no mês seguinte ela iria para o Algarve. Eu só tinha que ir também e esperar que ela vestisse o fato de banho preto para ver uma orca nas águas quentes de Lagos. Disse isto, levantou-se e começou a dar aos braços como se fossem barbatanas e a emitir sons esquisitos e terminou sentando-se e dizendo: Quem dá o que tem a mais não é obrigado. Rimos a bom rir com aquela espontaneidade tão típica dela.
Trabalhámos juntas na Câmara Municipal, que oferecia às mulheres um almoço seguido de espectáculo, todos os 8 de Março. Por norma a Paula, a Lena e eu ficávamos juntas e era rir até fartar. Num desses almoços chamaram-me ao telefone, coisa inusitada, quem teria tanta pressa, para quem seria eu tão urgente? O meu avô morrera, o meu amado avô Gualdino, morrera.
O meu cabelo vindo há poucas horas da cabeleireira esbateu, a minha roupa um pouco mais vistosa ensombrou-se, as gargalhadas transformaram-se em lágrimas e as minhas amigas acompanharam-me nesta imensa tristeza.
Anos mais tarde recordei com a Lena, e diante de uns bons copos, aqueles almoços do dia 8 de Março e a exuberância da Paula. Brindámos-lhe como se ela estivesse connosco. A bem da verdade, ainda está porque há pessoas que nunca desaparecem. 

Sem comentários:

Enviar um comentário