O Inverno é Negro, o Verão Amarelo, a Primavera Arco-Íris e o Outono Castanho.
Que grande parvoíce!
Sou dona de todas as cores mesmo daquelas que a Robbialac faz só de
encomenda.
As minhas calças amarelas de ontem – com uma camisola de riscas amarela,
verde e preta, fatiota abrasileirada à qual só faltava uma estampagem a dizer Ordem
e Progresso – foram escolhidas para combater o cinzento instalado por este
Inverno teimoso que nem uma porta e para provocar a mariquinhas da Primavera
que está mas não está, devia estar mas anda em parte incerta, irresponsável estação
que não assume as suas obrigações e deixa que o Inverno se assolape, nem tendo
sido necessário um golpe de estado, nem uma revolução para ficar com o que não é
seu.
Detestando calças, com este tempo não tenho vestido outra coisa, mas uso-as
de todas as cores: laranja, verde bandeira, encarnadas com cornucópias, azul forte,
brancas, amarelas, de ganga azuis e azuis sem ser de ganga, de vários azuis.
A parte de cima é igualmente soalheira e agora que estou muito mais magra já
me atrevo a uns estampados nas mamas ou na barriga, como hoje que ostento a Union
Jack do pescoço à cintura.
Não prescindo de qualquer cor na roupa e face ao preto, cinzento, castanho,
preto, cinzento, castanho e ainda, preto, cinzento e castanho que toda a gente
usa, nos transportes ou na rua sinto-me uma bola de espelhos das discotecas no
meio dos oficiais preto, cinzento e castanho.
Anseio pelo tempo das saias e calções já que agora só raramente os visto,
pois implicam vestir collants, a peça de roupa mais mal enjorcada que já se
criou. Quando os visto ando o dia inteiro apertada, transpirada, sufocada e aparento-me
com Gru, o Mal Disposto.
Não tenho aquela peça indispensável em qualquer armário, por vezes em
duplicado, com diferentes formatos: calças pretas. Tenho um casaco preto estilo
Matrix que raramente uso pois a subir ou descer escadas faz-me parecer a rainha
Vitória a segurar as saias. Se estiver nos meus melhores dias de
despenteamento, até parece que uso coroa!
Irrita-me solenemente o ar de cemitério em que as pessoas se mantêm, não
fazendo nada para contrariar este cinzentismo, do tempo e dos tempos em que vivemos.
Vestir uma roupa colorida não muda nada? Muda tudo, faz-me sentir uma ilha
de boa disposição, salto à vista no espelho do lavatório da casa de banho entre
três ou quatro pessoas a lavarem mãos, dá-me leveza e transporta-me para fora
deste eterno Inverno.
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