segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Olhar versus ver

Desde há vários anos participo com alguma regularidade nos passeios organizados pela SAL, Sistemas de Ar Livre. Os últimos foram sob a égide do conceito ‘Esta Lisboa que eu amo’ e transportaram-nos para uma época pós terramoto até ao século 19.
A menção a valores gastos na época para fazer isto ou aquilo e expressa em contos de réis dá sempre vontade de rir aos participantes. A mim faz-me franzir as sobrancelhas de admiração e, confesso, cria-me uma certa irritação os risinhos da plateia. Porquê? As pessoas ouvem falar dum donativo de quatro contos para o Jardim da Estrela e riem pensando nos vinte euros a que correspondem hoje, sem conseguirem transportar-se verdadeiramente para a época e perceber que era muito, muitíssimo dinheiro. Riem-se como se ririam das partidas que os Três Porquinhos pregaram ao Lobo Mau. Riem-se porque não estão a interiorizar o que lhes é dito e apenas a ouvir. A interiorização das ‘coisas’ é o que nos leva a pensar, para depois reflectir, conduzir raciocínios, concluir, se for o caso.

Passeio Público (Imagem retirada daqui)
 Bem sei que devo ter em conta a heterogeneidade dos participantes, as motivações, o interesse maior por esta questão em vez daquela, bem sei, mas não deixo de pensar como penso e não digo que estou certa, apenas partilho um pensamento.
Eu que trabalho em pleno Marquês de Pombal, e subo e desço a avenida da Liberdade dezenas de vezes no ano, via-a com olhos de ver este sábado pela primeira vez.
Não, não vou com os olhos fechados, e já a tinha olhado muitas vezes, mas nunca a tinha visto. A partir de agora sempre que lhe pisar a calçada fá-lo-ei mais devagar a lembrar, farei curvas até aqui evitadas para ver melhor, pararei mesmo com pressa para readmirar.

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