Os significados de sexta-feira 13 como sinónimo de azar e
infortúnio são do domínio cristão (ocidental?), mas do conhecimento geral.
Na passada sexta-feira, 13 de Novembro, houve como que uma
conjugação astral perfeita, daquelas que dificilmente se repetem: a) sexta-feira,
dia de entretenimento por natureza; b) dia 13, data associada ao azar; c) Jogo
de futebol, entre os dois grandes da Europa com a assistência de responsáveis
máximos franceses e alemães; d) concerto rock de banda americana, que reuniria
1500 pessoas; e) tudo aconteceria no coração da Europa, Paris.
A eleição de uma sexta-feira 13 proporciona a activação eterna do
medo espontâneo, irracional, imediato, a cada nova sexta-feira 13, que
carregará para sempre a lembrança do acontecido, como se solidificasse o azar
que se lhe associa. Usou-se uma irracionalidade cristã para dar corpo e
perpetuar o medo.
A mensagem passa por esclarecer que a Europa pode abrir as portas
aos sírios, mas o EI tem o controlo total, e pode agir onde bem lhe apetecer. E
o ‘onde’ foi geograficamente em Paris, mas política, económica e socialmente
atingiu-se o mundo inteiro. Outra vez. Ao contrário do que aconteceu no Charlie
Hebdo o alvo não era dirigido em particular, era múltiplo.
A França está em guerra porque geograficamente o ataque ocorreu no
seu território, mas há vítimas de diversas nacionalidades, num semear daquilo
que não custa a germinar: ódio e raiva por parte da sociedade que gera ondas de
solidariedade que partilham o mesmo acto, rezar, uma atitude virada para um céu
cujos habitantes parecem divertir-se e cuja eficácia parece não existir.
Por outro lado, o ódio e raivas sociais, a partir de agora têm um
novo rosto, o dos milhares de refugiados que assistem à Europa anfitriã (a bem
ou a mal) a atacar militarmente e também os ainda imensos civis, seus
familiares, residentes na Síria. O que vai falar mais alto, o alívio sobre o
extermínio, ou melhor, a tentativa de extermínio de campos do EI, ou a
aniquilação das suas famílias? Será esta vista como um dano colateral
inevitável, sobre o qual nada havia a fazer? Quando fugiram foi um voltar de
costas definitivo ou haverá ainda muitos a correr o risco de se transformarem
em sal?
A França não pode olhar a meios, tem que pagar na mesma moeda, tem
que correr o risco de matar civis, sem pestanejar, como represália de ter sido
alvo exactamente do mesmo.
O EI consegue perfurar até à aorta da Europa e agir
sanguinolentamente e o mundo ocidental, artilhado com tudo o que emana imparavelmente
da tecnologia, não consegue paralisar o EI, com embaraços gigantescos como o de
terem libertado Abdeslam Salah depois de o terem interrogado?
Não há uma grelha, um padrão, para, na sequência das prisões, se
determinarem ligações e contactos? 48 horas depois dos ataques as autoridades
mostram os aviões a levantarem, com destino a Raqqa, numa afirmação de
determinação e força. As imagens oficiais são simbólicas e, natural e
garantidamente planeadas, num momento da vida da humanidade onde nada se faz
sem um pendor publicista, mesmo no meio do caos. É preciso que o povo veja uma
acção firme, que a opinião pública veja, assista, seja testemunha da não
passividade do seu governo.
Pode-se e deve-se ter receio de jogar com as mesmas armas? Que eficácia
tem a aplicação dos mesmos valores da Europa, as mesmas preocupações, a quem
nem as reconhece, como se falássemos línguas diferentes, não só estrangeiras,
mas totalmente incompatíveis?
Os actos de terrorismo unem os ocidentais através da oração, mas
fá-los olhar para todos e para cada um como um potencial terrorista. Assim, a
divisão cresce à medida que a união do EI cresce também.
O ataque de hoje é feito pela França, mas quando o EI ataca fá-lo
como se fosse um ataque pessoal, a cada um, face aos valores ocidentais que
ligam as pessoas, como a tão francesa fraternidade.
O EI planeia profissionalmente, com calma, ponderação e em total
sigilo, enquanto o ocidente partilha na internet todas as suas intenções antes
de as realizar. Partilha-se também a radicalização do ocidente contra os
árabes. O plano do EI está a funcionar na perfeição também na perspectiva de
dividir o ocidente.
Fecham-se as fronteiras como um regresso a um certo medievalismo
onde as fortalezas proliferaram, de portas fechadas e sobranceiras sobre os
estrangeiros, todos os estrangeiros pois todos são suspeitos, por mais que se
diga que não.
Muitos muçulmanos afirmam que o Islão não é isto. Não terá sido,
mas agora é, pois é a cara visível que toca e que ofende.
A multiplicidade de dimensões onde é preciso fazer vigilância
passa irremediavelmente pelo ocidente: as redes sociais são estradas sem
portagens onde o radicalismo acelera a fundo. Ao longo de incontáveis anos, os elementos
do EI aprenderam línguas, como o inglês e outras dos países onde se têm
radicado e onde são recrutados; por seu lado, os ocidentais não falam, escrevem
e nem sabem ler árabe, causando um abismo na localização dos planeamentos dos
ataques, que podem estar a ser gizados ao lado de cada um de nós, que ninguém
se apercebe.
Como afirma Sajian Gohel, director de segurança internacional da
Fundação Ásia-Pacífico, a resposta da França é a resposta esperada, mas será a
mais acertada, quando o EI tem estruturas que aguardam esta resposta? Se o objectivo
é destruir o EI, a resposta é não. É necessário um ataque terrestre, vila a
vila, aldeia a aldeia, desmantelando tudo, sem deixar viver a dúvida.
Por parte do EI, atacado o coração, aguardam-se novos ataques a órgãos
fundamentais da Europa, sendo essencial não dormir na forma e estar preparado
para as novas démarches de quem quer redesenhar o Médio Oriente.
Do lado político europeu avança-se para a 3ª Guerra Mundial. A França
abre caminho, qual forcado da cara, mas os aliados enfileiram-se, todos a
quererem agarrar o touro pelos cornos.
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