terça-feira, 30 de julho de 2013

Piiiiiiiiiiiiiiiiiiiiiii

De um dia para o outro fiquei surda do ouvido direito. A surdez vem acompanhada com um zumbido e um barulho de fundo com qualquer coisa de metálico. Não dando dores, provoca um desconforto difícil de descrever, como se a loucura se tivesse mudado cá para dentro, qual concerto de metálica, qual quê. Este zumbido 24 horas por dia deixa qualquer um louco e vou reagindo da melhor forma possível, sem que, na grande maioria das vezes, as pessoas se apercebam da minha profunda infelicidade. Tenho sempre a música ligada para minimizar a coisa e adormeço de auscultadores nos ouvidos, caso contrário, podia jurar que estava dentro da antiga mira técnica!
Por outro lado, à medida que a situação se instala, provocou-me sentimentos de inferioridade e de superioridade, à vez. Os primeiros apoderam-se de mim quando vejo as pessoas a mexer os lábios como se quisessem fazer playback e se tivessem esquecido de ligar a música. A superioridade advinha do facto de, vá lá saber-se porquê, ouvir perfeitamente o que se diz… à distância: não ouço bem as pessoas que falam ao telefone ao meu lado, mas ouço perfeitamente o interlocutor lá do outro lado, gramo as conversas todas da vizinhança, nos cafés, nos transportes, sei o que os vizinhos estão a ver na televisão. No início teve graça, mas agora é um pesadelo, como se mil pessoas falassem comigo em simultâneo. Diariamente penso que se tivesse dores tomava uns analgésicos e aquilo passava, mas isto não. Nunca imaginei que pudesse ser tão incómodo, e não digo horrível porque me parece esquisito usar uma palavra tão forte com algo que nem se vê, mas apetece-me dizer. Quem me vê nem sonha o que estou a viver.
Interiorizo que eu é que estou surda, não os outros, e tento não falar aos berros. Ainda assim, a cozinha, que inundo diariamente com o rádio, está agora cheia que nem um ovo pois até a canalização, se tivesse voz activa, se queixaria. A televisão está no máximo e o Duarte diz que eu quero partilhar o que vejo e ouço com a rua toda.
Nunca mais gozei com o meu querido primo A. que, sendo surdo, fala com as pessoas com a cabeça ligeiramente à banda, para ouvir melhor, dando o flanco auditivo bom a quem conversa.
Isto demora há cerca de mês e meio e nunca fui tanta vez ao médico, com uma média de duas consultas por semana. Depois da medicação, veio o diagnóstico, isto só vai com uma intervençãozinha, coisa pouca, ainda assim, internamento, anestesia, essas coisas.
Isso está tudo muito certo mas, e o dinheiro?
Informo-me que terei que ir ao otorrino através de um pedido do médico de família, que não tenho. Depois terei que esperar a marcação da consulta que, quando vier, me leva a repetir os exames que ditarão a necessidade da cirurgia, cirurgia essa que tem uma lista de espera, como é óbvio. Como também é óbvio, quando me chamarem já eu estarei completamente surda e nem ouvirei!

6 comentários:

  1. Mas que imbróglio, cara Areia às Ondas! Nem sei se faz sentido desejar-lhe boa sorte, mas desejo-lhe na mesma, para o que vier ainda a fazer, na tentativa de resolver esse problema!

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  2. Cristina, obrigada. O título deste post também poderia ter sido Aqui morre-se...

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  3. Esse género de distúrbio (ou doença) é chamado de "tinitus", na Alemanha, e é encarado com muita seriedade, pelo incómodo que causa. Penso que haverá situações que não são operáveis (se o motivo for mais do foro psicossomático) e há mesmo quem faça psicoterapia, a fim de aprender a viver com esse som horrível e constante. Eu, por acaso, também tenho uma espécie de "tinitus", mas é um som mais grave, como um murmúrio, e que só ouço em determinadas situações, por isso, não incomoda tanto. Mas também há outras situações em que os motivos são orgânicos e, aí, talvez tenha de ser operado. Mas olhe que eu não sou nenhuma especialista na matéria, é só de ouvir contar a pessoas que têm, ou já tiveram, esse problema.
    De qualquer maneira, acho que seria aconselhável ir a um otorrino.

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  4. Cristina, agradeço as suas palavras. Os otorrinos ultimamente têm feito fortunas comigo! :)

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  5. Quando a Areia disse "terei que ir ao otorrino através de um pedido do médico de família, que não tenho", pensei que ainda não tivesse ido, mas vejo agora que estava a falar desse pedido, que desencadearia o processo que conduziria à operação, certo?
    Hoje farto-me de dar conselhos médicos, também o fiz no Horas Extraordinárias. Coincidências ;)

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