Oito e pouco da manhã, café por baixo da minha casa, entro e dou os bons dias mas ninguém me ouve. Donos e três clientes esganiçam-se a falar mais alto que os outros mostrando repugnância e sobrolhos franzidos em uníssono. O dono faz-me sinal do fundo, ao lado da máquina do café, assinto com a cabeça, sim é café, cheio, explico eu com o polegar e indicador afastados.
Pouca vergonha, lata, gozo, mariquice, paneleirice até, eram palavras usadas na conversa que se desenvolvia com ares de escárnio, sem que eu percebesse quem era a desenvergonhada pessoa de quem falavam, até que alguém disse, isto devia ser proibido.
Mas que raio, o que é que devia ser proibido? O José Castelo Branco!
Num programa de televisão na noite anterior apresentou-se vestido de toureiro ou campino, as opiniões divergiam, mas a unanimidade conseguia-se quando concordavam no maluco, sem vergonha, estapafúrdio, inconsequente, bizarro, parvo, nojento, exibicionista, maricas.
Mas como é que a mulher atura aquilo? Mas como é que lhe dão tempo de antena? Mas como é que se permite uma coisa daquelas num canal de televisão?
Muitos mais mas comos irritaram-me tanto que, aproveitando uma deixa de uma senhora que se me dirigia, certa da minha concordância e talvez um pouco curiosa com o facto de ainda não me ter juntado ao coro, manifestei a minha total discordância. Arrependi-me no mesmo instante, pois claro, mas já era tarde.
Avancei devagar, voz moderada, defendendo a diferença, elogiando a coragem que nenhum de nós tem para fazer o que nos apetece, sempre tão preocupados com o que os outros dizem e pensam sobre nós. Acrescentei que não se pode comparar o incomparável, o casamento de José Castelo Branco com Betty Grafstein não se enquadra nos casamentos onde vamos ou dos quais ouvimos falar, é preciso um espírito muito aberto para não se usarem as medidas com que costumamos medir o mundo, medidas essas feitas pela média da pessoas, no caso pela moda - esta calhou que nem ginjas.
Porque razão tem tudo de ser igual? Porque exprimimos sentimentos negativos com a diferença? Porque é tão difícil gozarmos connosco próprios e tão fácil de o fazer com os outros? Não será isto uma certa forma de inveja? Alguém que faz o que lhe dá na real gana, será condenável ou é ousadia provocadora de ciúme? Inconfessável, é claro.
Eu percebo que os dois casais que ali estavam a comparar-se com JCB e BG, usavam a comparação de forma tão ridícula como eu ficaria a comandar um submarino, mas eu sei que a casaca e o chapéu de comandante me assentariam carregados de comicidade - sem falar da minha cara de pânico por não fazer a mais pequena ideia como devia agir - e eles acham perfeitamente natural fazerem a comparação e, como se não chegasse, ficarem convictos de que a normalidade é a regra, a sua normalidade, não a dos outros.
JCB, o ridículo, é também JCB, o livre. Pormos de lado os preconceitos dá-nos liberdade, liberdade essa que vem com preço, preço em forma de seta apontada a todo o lado, seta venenosa, veneno da inveja.
O divórcio de preconceitos pode dar uma calma que não se consegue nem com medicação, uma visão diferente do mundo, um coexistir pacífico onde a diversidade se pode passear à vontade.
A esta altura já vingava o silêncio no café mas eu ainda não tinha dito tudo e não saí sem dar a opinião completa, ou seja, lembrando-os que alguém precisa de dar alguma cor às vidas cinzentas da maioria das pessoas, arranjar-lhes assunto para comentarem; e como essa maioria não costuma interessar-se muito pela ciência - aproveitei para perguntar de rajada se sabiam quem era Ana Ferraz, não sabiam - como não se interessam muito por leitura, mas adoram conversar, sobre os outros é claro, e de preferência quando esses outros não podem responder, então deviam agradecer a JCB por proporcionar momentos tão inesquecíveis.
Não conheço JCB, nunca o vi sem ser na televisão, sei que é um ser excêntrico e divergente dos modelos aceites socialmente, que se está nas mais puras tintas para o que dele dizem, que não se molda nem à lei da bala, porque nem um bala abala a coragem que tem. Isto devia ser proibido? Não me parece...
Pouca vergonha, lata, gozo, mariquice, paneleirice até, eram palavras usadas na conversa que se desenvolvia com ares de escárnio, sem que eu percebesse quem era a desenvergonhada pessoa de quem falavam, até que alguém disse, isto devia ser proibido.
Mas que raio, o que é que devia ser proibido? O José Castelo Branco!
Num programa de televisão na noite anterior apresentou-se vestido de toureiro ou campino, as opiniões divergiam, mas a unanimidade conseguia-se quando concordavam no maluco, sem vergonha, estapafúrdio, inconsequente, bizarro, parvo, nojento, exibicionista, maricas.
Mas como é que a mulher atura aquilo? Mas como é que lhe dão tempo de antena? Mas como é que se permite uma coisa daquelas num canal de televisão?
Muitos mais mas comos irritaram-me tanto que, aproveitando uma deixa de uma senhora que se me dirigia, certa da minha concordância e talvez um pouco curiosa com o facto de ainda não me ter juntado ao coro, manifestei a minha total discordância. Arrependi-me no mesmo instante, pois claro, mas já era tarde.
Avancei devagar, voz moderada, defendendo a diferença, elogiando a coragem que nenhum de nós tem para fazer o que nos apetece, sempre tão preocupados com o que os outros dizem e pensam sobre nós. Acrescentei que não se pode comparar o incomparável, o casamento de José Castelo Branco com Betty Grafstein não se enquadra nos casamentos onde vamos ou dos quais ouvimos falar, é preciso um espírito muito aberto para não se usarem as medidas com que costumamos medir o mundo, medidas essas feitas pela média da pessoas, no caso pela moda - esta calhou que nem ginjas.
Porque razão tem tudo de ser igual? Porque exprimimos sentimentos negativos com a diferença? Porque é tão difícil gozarmos connosco próprios e tão fácil de o fazer com os outros? Não será isto uma certa forma de inveja? Alguém que faz o que lhe dá na real gana, será condenável ou é ousadia provocadora de ciúme? Inconfessável, é claro.
Eu percebo que os dois casais que ali estavam a comparar-se com JCB e BG, usavam a comparação de forma tão ridícula como eu ficaria a comandar um submarino, mas eu sei que a casaca e o chapéu de comandante me assentariam carregados de comicidade - sem falar da minha cara de pânico por não fazer a mais pequena ideia como devia agir - e eles acham perfeitamente natural fazerem a comparação e, como se não chegasse, ficarem convictos de que a normalidade é a regra, a sua normalidade, não a dos outros.
JCB, o ridículo, é também JCB, o livre. Pormos de lado os preconceitos dá-nos liberdade, liberdade essa que vem com preço, preço em forma de seta apontada a todo o lado, seta venenosa, veneno da inveja.
O divórcio de preconceitos pode dar uma calma que não se consegue nem com medicação, uma visão diferente do mundo, um coexistir pacífico onde a diversidade se pode passear à vontade.
A esta altura já vingava o silêncio no café mas eu ainda não tinha dito tudo e não saí sem dar a opinião completa, ou seja, lembrando-os que alguém precisa de dar alguma cor às vidas cinzentas da maioria das pessoas, arranjar-lhes assunto para comentarem; e como essa maioria não costuma interessar-se muito pela ciência - aproveitei para perguntar de rajada se sabiam quem era Ana Ferraz, não sabiam - como não se interessam muito por leitura, mas adoram conversar, sobre os outros é claro, e de preferência quando esses outros não podem responder, então deviam agradecer a JCB por proporcionar momentos tão inesquecíveis.
Não conheço JCB, nunca o vi sem ser na televisão, sei que é um ser excêntrico e divergente dos modelos aceites socialmente, que se está nas mais puras tintas para o que dele dizem, que não se molda nem à lei da bala, porque nem um bala abala a coragem que tem. Isto devia ser proibido? Não me parece...
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