terça-feira, 13 de maio de 2014

Receita para abrandar, precisa-se. A sério?

De casa à estação de metro passo por oito semáforos. Eu que não gosto de jogos de computador nem de telemóvel, tenho aqui o meu jogo diário, matinal, verdadeiro.
O primeiro ainda não está verde, passa logo a  encarnado e, nesse fugaz instante, quem vira à direita como eu, ainda tem que dar passagem aos peões.
O segundo fica em frente a uma corporação de bombeiros que, volta a meia, face a qualquer urgência, fica encarnado uma eternidade, programada como medida de segurança para que as ambulâncias e demais vaituras possam sair sem problemas. Por isso, todos o passam mesmo em amarelo, nunca se sabe quando vai abrir...
O terceiro, o quarto e o quinto distam cinquenta metros uns dos outros e os carros parecem carrinhos de choque a andarem uns centímetros e a travarem uns em cima dos outros. A partir daqui passa a haver duas faixas mas os dois semáforos seguintes são controlados pelos peões, pelo que podem estar encarnados alternadamente ou em simultâneo e o desafio é passar os dois rapidamente.
O último, na reta final e já só com uma faixa novamente é o mais equilibrado de todos em termos de tempo de abertura.
Hoje, pela primeira vez, o primeiro estava verde e eu passei imediatamente, no segundo, terceiro, quarto, quinto, sexto e no sétimo aconteceu a mesma coisa. Parecia que alguém lhes mudava a cor à minha aproximação. A bem da verdade, o último também estava verde, mas abrandei um pouco, deixei cair o encarnado e fiquei ali a pensar como o início desta manhã se assemelha ao meu estado de espírito actual: verde, ininterrupto, rápido, fluído e, sem sombra de dúvida, com necessidade de abrandamento.
Os pedidos neste sentido vêm de todos os lados, temerosos que me aconteça alguma coisa.
Mas como se abranda numa fase em que tudo corre tão bem? Porque se há-de abrandar se aquilo que se devia perseguir era esta sensação de bem-estar e de plenitude?
Falta-te um namorado, ai falta, falta, dizem as vozes à minha volta. Será que falta? Seria eu mais feliz e preenchida do que me sinto agora, se tivesse alguém ao meu lado?
Só se fosse alguém com quem eu pudesse estar permanentemente a falar e a discutir estas minhas actuais... obsessões... vá lá, dou de barato que são obsessões, mas que me fazem feliz, isso fazem e muito. 

5 comentários:

  1. Adoro-te ler-te...lentamente...abrandando de vez em quando...não vá o sinal ficar vermelho de repente...(ó pá mas ele está vermelho há muito!).

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  2. Este comentário foi removido pelo autor.

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  3. Às vezes julgo que sou uma personagem e ficção...não me lembro é de alguém me ter lido recentemente...

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  4. Não tenho dúvidas que darias um 'bom argumento', excepcional, na verdade...

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  5. Comédia, tragicomédia, ficção, documentário, ficção científica, burlesco, drama, suspense....?

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