Alexandre O'Neill deu-nos um Cão. É em forma de poema, mas é um Cão, o
chamado melhor amigo do homem, às vezes tão amigo que se confunde com ele.
Um dos trabalhos de casa das férias do meu sobrinho mais velho é refazer o
poema, com outro animal.
Quinta-feira de Páscoa não trabalho de tarde e, à porta do Arquivo
Histórico Militar onde esperamos que batam as duas da tarde para entrar, dou a
minha contribuição para o poema, escolhendo o animal: o Corvo.
O resto é dele.
Rói-te O'Neill.
Corvo negro, Corvo preto
Corvo escuro como breu
Planador, andarilho
Corvo torto, Corvo morto,
Corvo de penas prateadas
Corvo veloz como o vento
De bico sempre presente
Corvo necrófago, Corvo espião
Corvo capitalista, mentiroso, aproveitador
A desfazer-se num grito
A refazer-se num piu.
Corvo ave, Corvo aqui
Corvo além e sempre Corvo.
Corvo sinal, símbolo de Lisboa
Corvo a debicar a presa
Presente em cada esquina
Corvo indiferente a cada dia.
Corvo elegante, o da Sofia.
Corvo de loiça de crá-crá apagado.
Corvo na mira da escorva
Vítima do caçador
Corvo, vigilante da noite.
Corvo nocturno, Corvo soturno
Corvo discreto, Corvo ausente, Corvo sombrio
Corvo de olhos que afectam
Corvo-feiticeiro
Sai depressa, ó Corvo, deste paradeiro.
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