Todos sabemos que
a objectividade é uma coisa muito subjectiva. Se mete amigos pelo meio, então,
valham-nos os deuses de todos os Olimpos! Tenho uma amiga que pratica o
expoente máximo desta máxima e perdoa os maiores crimes, àqueles que lhe são
queridos, defendendo-os como uma leoa defende os filhos, e aponta a dedo uma
falha numa unha dos que lhe são menos simpáticos. Temos várias discussões sobre
o assunto, pois teimo numa justiça cega, independentemente dos protagonistas. Confesso
que me custa dar o braço a torcer perante certas pessoas, mas faço-o e faço-o
com um sorriso: é justo.
Porém, fui
apanhada na curva com um dos meus heróis, através de um objecto que venero e
nessa veneração – como em todas, de resto – existe uma cegueira inata que nos
camufla a verdade.
Falo do livro Uma história da leitura de Alberto
Manguel, do qual tenho duas edições, uma portuguesa da Presença e uma
brasileira, da Companhia das Letras, ambas produzidas de maneira a fazer com
que os leitores desistam da leitura.
Como é que nunca
tinha reparado nisto? Pois…
Há dias o meu
sobrinho descobriu a edição portuguesa numa estante lá de casa e começou a
folhear o livro, já folheado, tantas e tantas vezes, letras gastas de tanta
leitura.
Comecei a
falar-lhe do autor e ele disse-me que o livro era muito difícil. Como assim? Porque tem muitas notas e os números das
notas são os mesmos em cada capítulo e como estão no fim do livro organizadas
também por capítulos é uma confusão.
E com esta atirou
o livro para cima do sofá quase provocando um ataque cardíaco aqui na tia, pelo
desprezo dado ao livro, pelo desrespeito dado ao autor e, acima de tudo, pela novidade
que me estava a dar…
Confirmei o que
ele dizia e fui buscar a outra edição, num misto de ansiedade e triunfo, com um
sorriso de quem tem um segredo para revelar. Azar, estava na mesma.
As notas estão no
final do livro, organizadas capítulo a capítulo, com a numeração repetida o que
obriga a que tenhamos dois dedos metidos no livro durante a leitura, um para
segurar a página em que vamos e outro para marcar as notas correspondentes àquele capítulo, o que nos faz andar 300 páginas para trás e para a frente a cada
passo: cansativo, confuso, desencorajador e facilitador da desistência da
leitura.
Ora, há livros e
livros… e se a maldade que reside em mim daria uma gargalhada gélida ao ver
semelhante coisa numa qualquer Mão do Diabo, fica gelada quando o mesmo se passa
num livro de Manguel e, ainda por cima, com Uma
história da leitura chega a ser irónico.
Quando fazemos um
livro não devemos colocar-nos no papel do leitor? Sim, quando fazemos um livro,
porque os livros são feitos pelos Editores, o seu conteúdo é que não.
As andanças a que
a leitura deste livro obriga, - logo este, raios! – são de uma despesa que não
se coaduna com os tempos que correm: é gasto de tempo, perda de concentração e
de percepção.
Assim, aqui deixo
o pedido para a colocação das notas em rodapé numa próxima edição, uma mudança
com a qual ganhamos todos, aposto. Assim como se ganha quando o nome do autor
está bem escrito…
:)
ResponderEliminarPois... ;)
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