terça-feira, 6 de novembro de 2012

Qual a distância que vai do amor ao egoísmo?


Qual a distância que vai do amor ao egoísmo? Um longo caminho…
Amamos, queremos a presença daquela pessoa, queremos que ela esteja, mesmo que a não vejamos, mas que esteja bem, como se nesse bem-estar residisse um velar silencioso por nós, porque o amor é recíproco. Damos tudo para que essa pessoa tenha saúde, pagamos, matamos e esfolamos, numa demonstração de total inexistência de egoísmo. O objectivo é podermos sorrir e abraçarmo-nos mutuamente.
Mas, e se essa pessoa já tiver passado os oitenta anos, tiver um enorme historial de doenças, permanecer há anos numa cadeira de rodas acompanhada de Parkinson, estiver inconsciente e a ser medicada com morfina para as dores? Qual a distância que vai do amor ao egoísmo? Nenhuma, mesmo que seja nossa mãe.
Sou fria? Nestas coisas sou gelada, uma parente afastada do Marquês de Pombal quando dizia para se enterrarem os mortos e cuidar-se dos vivos.
Bem sei que falar é fácil, e que a objectividade é uma característica que não consta do universo emocional de filhos devotados e amigos, mas há uma sanidade mental que se vai perdendo, um desgaste que se torna cada vez maior e que compromete a vida dos vivos, arrastando-os para um abismo de onde vêm a morte, onde lhe tocam para a afastar, sem se aperceberem que ela não se vai embora só porque nós queremos, só porque a empurramos à força de novos tratamentos médicos, de novos especialistas e mais análises. 
Ela ali está, sem pressas, a rir-se para nós, a rir-se de nós e nós a teimarmos que levamos a melhor com ela, a insistirmos, a persistirmos, sem aceitarmos que a guerra já está ganha por ela e que no fundo apenas estamos a prolongar a agonia de outrem, daquela pessoa que amamos mas que não hesitamos em sujeitar a mais tratamentos, mais doses de morfina, mais períodos em coma.
Afinal, qual a distância que vai do amor ao egoísmo? A pergunta certa não é essa, mas sim, qual o caminho do amor ao egoísmo? E aqui, o facto de se fazer sempre escala na Esperança muda tudo.

2 comentários:

  1. Pensar em nós, não é egoísmo. É amor próprio e autoestima. E a objectividade pode muito bem ser uma característica que consta do universo emocional de filhos devotados e amigos!

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  2. É uma situação muito complicada que origina sentimentos muito díspares... mas cá estamos para apoiar :)

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