Sábado fiz uma
caminhada curta e lenta, para os meus padrões. Já pelos padrões da pessoa que
me acompanhava foi enorme, rápida e extenuante: caminhar com uma só perna tem
destas coisas.
Demorámos duas
horas certas a fazer o percurso que, sozinha, teria feito em 15 minutos. Mas se
tivesse ido sozinha não tinha ficado a conhecer melhor uma verdadeira heroína,
daquelas que vive paredes meias connosco e sobre quem desconhecemos os seus
super-poderes.
Sempre considerei
que as mães são Mulheres Maravilha – não deixo de sorrir porque as iniciais do
meu nome são precisamente MM – capazes de tanto com tão pouco, magas do invisível,
feiticeiras da vida. Esta mulher não é mãe mas é heroína, sem dúvida alguma:
perdeu uma perna no dia que completava 18 anos, viu parte do corpo ser-lhe reconstruída
e anda com a ajuda de uma prótese que lhe marca o compasso do coxear. Dona de
uma força que poucas pessoas minhas conhecidas têm, senti um prazer enorme
quando a ouvi repetir que me acha uma pessoa extraordinária. Eu? Nada disso,
sou absolutamente normal. Não tenho metade da força dela, do empenho, da beleza
daquela mulher cujos olhos estão projectados no futuro, no seu futuro, que quer
partilhar com todos para que seja melhor para a comunidade.
Sim, fiquei
fascinada. Fascino-me com os seres superiores, com as pessoas que me podem
verdadeiramente ensinar, com aquelas que servem de exemplo, com as que estabelecem metas que eu penso que são inantigíveis e afinal basta querer para lá chegar.
Irrito-me um
bocado com as pessoas que dizem que não são capazes de fazer isto ou aquilo… na
verdade, não querem ou não precisam, caso contrário fá-lo-iam. Uma das protagonistas
de Duas mulheres em Praga, de Juan
José Millás, decide andar com o braço direito amarrado ao peito para descobrir
a sua esquerdice, que é como quem diz
até onde consegue chegar com o seu lado imperfeito,
até onde o consegue aperfeiçoar? É pena
só nos darmos a estes trabalhos de exploração de nós próprios quando não temos
outra alternativa, em vez de o fazermos porque sim.
Estarão as
pessoas com deficiências físicas mais bem preparadas para superar limites? Perante
o caso da minha companheira de passeio, sim, de longe, o que se manifesta numa superioridade perante
as pessoas ditas normais, mas uma superioridade tão grande que ainda nem me dei
conta de toda a sua plenitude, sem mágoas de vida, sem grilhetas ao passado que
lhe tirou a perna, mas com um enorme sorriso virado para o futuro e para as
pessoas que a rodeiam.
O mundo precisa
de mais pessoas como a I., disso não tenho dúvidas.
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