Dia de greve equivale a toque de despertador a meio da noite para poder levar o carro sem apanhar trânsito. Ainda é de noite quando tomo o pequeno-almoço no café da esquina. O empregado conta que ontem à noite se deu um crime violento na caixa multibanco ali ao lado: uma mulher foi assaltada de esticão; um homem ia a passar e quis ajudá-la. Foi brindado com um tiro no peito e morte imediata. A assaltada, para não ficar com inveja, também foi agredida e deu entrada no hospital em estado grave.
O incómodo causado pelo madrugar, em função da greve, transformou-se em vómito por esta sociedade, que é como quem diz por estes comportamentos, sobre os quais ainda ontem falava no Horas Extraordinárias, dizendo que a morte está tão banalizada que não me espanta que a ela se recorra, como quem muda de meias.
O valor da vida atingiu mínimos históricos, o respeito pelos outros é sentimento de museu e nestas alturas não me venham falar em prisões e em recuperação de pessoas pelo sistema: um barco sem fundo no alto mar, era a expressão e o remédio que o meu avô preconizava para estas situações.
Mas a questão fundamental é que no tal barco não podiam seguir só os assassinos, não senhor, tínhamos que ir nós também, que a meio desta manhã já esquecemos a história e achamos normal que à noite se volte a repetir.
Neste Inverno sem chuva e com muito frio, vestimos a capa do medo e nem a tiramos para dormir, e pedimos aos deuses que estas coisas aconteçam aos outros, cientes que continuarão a acontecer, sem esperança de mudança, submissos na falta de lei e na podridão da grei, engolindo os receios com voltas extra na chave que pende na fechadura da porta, coração aos saltos quando pensamos que nos podem entrar pela janela.
À imagem do país em geral, da justiça, da educação, da saúde, perguntamo-nos como chegámos aqui? Será que nos perguntamos? Será que queremos ouvir a resposta da nossa própria boca ou, se formos sinceros vamos encontrar uma quota-parte de culpa e preferimos nem nos olhar ao espelho com medo de encarar o monstro que nos sorri de dentro do laminado?
O incómodo causado pelo madrugar, em função da greve, transformou-se em vómito por esta sociedade, que é como quem diz por estes comportamentos, sobre os quais ainda ontem falava no Horas Extraordinárias, dizendo que a morte está tão banalizada que não me espanta que a ela se recorra, como quem muda de meias.
O valor da vida atingiu mínimos históricos, o respeito pelos outros é sentimento de museu e nestas alturas não me venham falar em prisões e em recuperação de pessoas pelo sistema: um barco sem fundo no alto mar, era a expressão e o remédio que o meu avô preconizava para estas situações.
Mas a questão fundamental é que no tal barco não podiam seguir só os assassinos, não senhor, tínhamos que ir nós também, que a meio desta manhã já esquecemos a história e achamos normal que à noite se volte a repetir.
Neste Inverno sem chuva e com muito frio, vestimos a capa do medo e nem a tiramos para dormir, e pedimos aos deuses que estas coisas aconteçam aos outros, cientes que continuarão a acontecer, sem esperança de mudança, submissos na falta de lei e na podridão da grei, engolindo os receios com voltas extra na chave que pende na fechadura da porta, coração aos saltos quando pensamos que nos podem entrar pela janela.
À imagem do país em geral, da justiça, da educação, da saúde, perguntamo-nos como chegámos aqui? Será que nos perguntamos? Será que queremos ouvir a resposta da nossa própria boca ou, se formos sinceros vamos encontrar uma quota-parte de culpa e preferimos nem nos olhar ao espelho com medo de encarar o monstro que nos sorri de dentro do laminado?
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