A idade avança e os especialistas médicos multiplicam-se. Esta semana fui ao cardiologista, ver a máquina, como diria o meu pai.
Marcam-se as consultas, os exames de rotina, vamos fazer as análises, ninguém nos avisa que temos levar o xixizinho, voltamos no dia seguinte com a pipeta, ou lá como se chama o tubinho, já com código de barras, que corresponde ao nosso nome mas em linguagem de laboratório, enfim, um controlo sobre nós próprios, uma preparação, que mesmo que seja espontânea e de prevenção, é chata que nem um prato de estanho.
A consulta para o cardiologista foi marcada para às 15.50h. O meu nome foi apregoado pelo sistema de altifalantes da clínica às 16.50h.
Entrei no consultório do doutor, como diz o Duarte que não usa o nome ‘médico’ não sei porquê, o que dá um ar estranho às conversas, fui ao doutor dos olhos, e fiquei parada diante dele. Estendeu-me a mão cumprimentando-me, sem me olhar, e disse-me que me despisse da cintura para cima para que me fizesse um ecocardiograma.
Fui tirando o casaco devagar e disse:
- Não me leve a mal, mas esperava um pedido de desculpa…
Parou de mexer na maquineta, levantou os olhos e perguntou porquê.
- Porque fui chamada uma hora exacta depois da hora a que estava marcada a consulta e penso que um atraso desta natureza merece um pedido de desculpa.
- A sério? Uma hora?
A pergunta foi acompanhada por um confirmar no computador que revelou que eu tinha razão.
- Tem razão… e quando as pessoas têm razão não há nada a dizer a não ser pedir desculpa. Aceite as minhas desculpas.
Nesta altura já eu estava de maminhas ao léu, com os resquícios do bronzeado da época de 2011 à luz fluorescente do gabinete, o que conferiu à cena um ridículo que me fez rir: ali estava eu meia nua, com cara de má diante de um homem que pedia desculpa de uma forma que não dava azo a mais reclamações.
A consulta continuou com a realização do exame, com muitas perguntas pelo meio, se me sentia mal, se tinha dores, se pensava que todos os médicos eram atrasados por natureza. Respondi não às duas primeiras e sim à terceira: os médicos, na sua maioria, demonstram um total desrespeito pela vida extra-consultório dos pacientes; pensam que a necessidade é unívoca, quando é bem biunívoca.
A par da letra, os atrasos, são uma espécie de assinatura dos senhores doutores médicos, quais reis no Olimpo da falta de saúde e cujas duas palavras, mesmo tortas, parecem bálsamos para nós. Temos que lhes fazer ver que não é bem assim…
Discursava eu a todo o vapor quando ele diz:
- Acredite que sou todo ouvidos… estou a registar cada palavra.
Disse esta frase a sorrir sem que o sorriso me parecesse irónico, pediu novamente desculpa e afirmou que ia pedir que as consultas fossem marcadas com um intervalo de tempo maior para que não se registassem atrasos. Agradeceu-me a reclamação com uma frase que o pai do Duarte costumava usar:
- As boas reclamações fazem os bons serviços.
Marcam-se as consultas, os exames de rotina, vamos fazer as análises, ninguém nos avisa que temos levar o xixizinho, voltamos no dia seguinte com a pipeta, ou lá como se chama o tubinho, já com código de barras, que corresponde ao nosso nome mas em linguagem de laboratório, enfim, um controlo sobre nós próprios, uma preparação, que mesmo que seja espontânea e de prevenção, é chata que nem um prato de estanho.
A consulta para o cardiologista foi marcada para às 15.50h. O meu nome foi apregoado pelo sistema de altifalantes da clínica às 16.50h.
Entrei no consultório do doutor, como diz o Duarte que não usa o nome ‘médico’ não sei porquê, o que dá um ar estranho às conversas, fui ao doutor dos olhos, e fiquei parada diante dele. Estendeu-me a mão cumprimentando-me, sem me olhar, e disse-me que me despisse da cintura para cima para que me fizesse um ecocardiograma.
Fui tirando o casaco devagar e disse:
- Não me leve a mal, mas esperava um pedido de desculpa…
Parou de mexer na maquineta, levantou os olhos e perguntou porquê.
- Porque fui chamada uma hora exacta depois da hora a que estava marcada a consulta e penso que um atraso desta natureza merece um pedido de desculpa.
- A sério? Uma hora?
A pergunta foi acompanhada por um confirmar no computador que revelou que eu tinha razão.
- Tem razão… e quando as pessoas têm razão não há nada a dizer a não ser pedir desculpa. Aceite as minhas desculpas.
Nesta altura já eu estava de maminhas ao léu, com os resquícios do bronzeado da época de 2011 à luz fluorescente do gabinete, o que conferiu à cena um ridículo que me fez rir: ali estava eu meia nua, com cara de má diante de um homem que pedia desculpa de uma forma que não dava azo a mais reclamações.
A consulta continuou com a realização do exame, com muitas perguntas pelo meio, se me sentia mal, se tinha dores, se pensava que todos os médicos eram atrasados por natureza. Respondi não às duas primeiras e sim à terceira: os médicos, na sua maioria, demonstram um total desrespeito pela vida extra-consultório dos pacientes; pensam que a necessidade é unívoca, quando é bem biunívoca.
A par da letra, os atrasos, são uma espécie de assinatura dos senhores doutores médicos, quais reis no Olimpo da falta de saúde e cujas duas palavras, mesmo tortas, parecem bálsamos para nós. Temos que lhes fazer ver que não é bem assim…
Discursava eu a todo o vapor quando ele diz:
- Acredite que sou todo ouvidos… estou a registar cada palavra.
Disse esta frase a sorrir sem que o sorriso me parecesse irónico, pediu novamente desculpa e afirmou que ia pedir que as consultas fossem marcadas com um intervalo de tempo maior para que não se registassem atrasos. Agradeceu-me a reclamação com uma frase que o pai do Duarte costumava usar:
- As boas reclamações fazem os bons serviços.
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