quinta-feira, 19 de maio de 2011

O Monopólio

A minha amiga Lu já nasceu vendedeira! Admiro-a porque eu sou daquelas pessoas que não conseguiria vender uma mantinha no Pólo Norte, mas ela vende aquecedores até no deserto do Sahara!
Depois de várias experiências ao longo da vida, curta, diga-se de passagem, porque ela tem só trinta aninhos e mal feitos e quem disser que essa é quase a idade da filha mais velha, leva logo com o meu olhar de olhos bem abertos a pedir para corrigir o disparate, mas, dizia eu, depois de outras experiências, agora é consultora imobiliária.
Um título destes tem imensa supless – soletremos por favor con sul to ra i mo bi li á ri a, que nos leva logo para uma dinâmica aparentada com sangue azul – e a Lu pediu-me ajuda no sentido de contactar pessoas a quem possa apresentar os seus serviços, dentro da sua zona de posicionamento/trabalho.
Confesso – estou de joelhos a penitenciar-me – que a zona de posicionamento levou a minha mente perversa para um cenário cheio de cetins, veludos e cintos-liga a atarem as barrigas gordinhas de certas meretrizes. Abanei a cabeça para afastar tão indignos pensamentos, centrei-me na candura da Lu, que parece um anjo e acedi a falar com algumas pessoas.
A bem da verdade, isto é um aviso pois a Lu planeia mudar a configuração da cidade, coisa que algum Plano Director Municipal conseguiu e ontem à noite esteve em minha casa a contar-me os planos da pólvora. Conclusão, ela vai reinventar o Monopólio!
Começou com os Jardins da Gulbenkian, que quer comprar a todo o custo, e quando percebeu que tenho um primo revisor da CP, os olhos brilharam-lhe já a ver as estações de Santa Apolónia, Campanhã e São Bento, debaixo da sua alçada!
Também no Quartel do Carmo se vai erguer um hotel – vão poder reconhecê-lo, era uma daquelas pecinhas vermelhas, maiores que as verdes, que eram as casas – e o meu amigo da GNR que falou com ela já anda a fazer terapia…
O parque Eduardo VII também está na mira da espingarda da rapariga, embora não saiba o que lá vai nascer, mas apenas que ela não gosta da inclinação, motivo pelo qual vai mandar terraplanar aquilo tudo para ficar com o terreno à mesma altura. Quando lhe disse que assim ia criar uma espécie de abismo em frente à rotunda do Marquês do Pombal, ela só me perguntou o que achava eu de por ali uma cascata que caísse em direcção à avenida da Liberdade…?
Também me explicou que o Rio Tejo está num local pouco razoável e avançou com umas ideias de o atapetar, para ficar mais estreito e criar espaço para mais construção, isto para além de projectar a compra e venda do Parque das Nações para ali sim, instalar o novo aeroporto!
Isso é que vai ser… os cámones a chegar, todos aos gritos a pensarem que vão cair no rio, atirar com o Oceanário e já a verem-se com a Amália e o Eusébio a onk, onk, onk pelo corredor do avião em chamas…
A danada da Lu faz um esforço enorme para acertar na Casa da Sorte, acho até que ficou com as cartas todas, e eu aviso-a que tenha cuidado que o Monopólio tem também uma prisão! Mas ela, forte e determinada, diz-me que se lá for parar conta com os amigos para lhe levarem uns cigarritos e, não tarda nada, está a passar outra vez pela Casa Partida!
Assim mesmo é que é!

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