O senhor Paiva era colega do meu pai lá na gráfica. Muito bem-disposto, como trabalhava por turnos, nem sempre tinha alguém com quem conversar e vivia com os ruídos da linotype que matraqueava à medida que os tipógrafos iam escrevendo. As palavras eram transportadas para linhas de chumbo que depois seriam juntas e enlaçadas com um cordel para levarem umas pinceladas de tinta e se deixarem imprimir fazendo jornais, livros, rótulos, folhetos e um sem fim de produtos gráficos.
Quando acabava um turno o tipógrafo deixava uma linha em branco, uma espécie de sinal que dizia, Vou aqui!, para que quem o fosse render soubesse onde devia começar. Todos faziam o mesmo, à excepção do Sr. Paiva, que preferia deixar uma mensagem aos colegas.
O Sr. Paiva era muito brincalhão mas tinha o hábito de usar palavras esquisitas para falar com as pessoas e dizia, por exemplo, a minha chouriça, para se referir à mulher… hábitos!
Numa ocasião quando acabou o turno resolveu deixar uma mensagem carinhosa ao colega e escreveu: Adeus até amanhã, ó batata!
A gráfica tinha aceitado um trabalho – isto na altura em que se tinha que pedir quase por favor que as gráficas aceitassem certos trabalhos, ao contrário de hoje que, face ao advento tecnológico, pouco trabalho têm – que consistia no boletim cultural duma associação recreativa que dava conta das suas andanças, progressos, passeios dos associados e tinha uma página dedicada à literatura onde, por norma, se publicavam poemas da autoria dos sócios.
Quem rendeu o Sr. Paiva não se apercebeu que a última coisa escrita não fazia parte do boletim, riu-se e agiu como de costume não mudando uma letra do que lá estava e bola p’ra frente, que se faz tarde, e ao revisor, dois dias depois, apenas lhe ocorreu pensar que há gente mesmo maluca!
A gente maluca apareceu lá na gráfica umas semanas mais tarde a pedir explicações sobre a razão pela qual o poema da autoria do senhor doutor fulano de tal, logo tinha que ser doutor, bolas!, que era sobre a paz no mundo e os efeitos do sol no coração dos apaixonados, tinha como título Adeus até amanhã, ó batata!
Batata? Isso era a assinatura do Paiva!
O dono da gráfica desfez-se em desculpas, Oh senhor doutor, por quem é, pois foi um engano, e o Paiva aqui não fez por mal, não sabemos como foi a batata parar no meio do amor, no meio, ou seja, a encabeçá-lo, pois, pois, fique descansado, vamos já fazer uma errata, é que é já, desculpe o senhor doutor, desculpe o senhor também na qualidade de director de tão distinta publicação, olhe, fique sabendo que é a que mais gostamos de fazer, de tantas iguais que aqui se fazem, iguais? que digo eu, parecidas, que esta destaca-se e de longe…
E assim se fez a errata que dizia:
Onde se lê Adeus até amanhã ó batata deve ler-se Os Desaguisados do Amor.
Como diria uma pessoa minha conhecida, é quase parecido.
Quando acabava um turno o tipógrafo deixava uma linha em branco, uma espécie de sinal que dizia, Vou aqui!, para que quem o fosse render soubesse onde devia começar. Todos faziam o mesmo, à excepção do Sr. Paiva, que preferia deixar uma mensagem aos colegas.
O Sr. Paiva era muito brincalhão mas tinha o hábito de usar palavras esquisitas para falar com as pessoas e dizia, por exemplo, a minha chouriça, para se referir à mulher… hábitos!
Numa ocasião quando acabou o turno resolveu deixar uma mensagem carinhosa ao colega e escreveu: Adeus até amanhã, ó batata!
A gráfica tinha aceitado um trabalho – isto na altura em que se tinha que pedir quase por favor que as gráficas aceitassem certos trabalhos, ao contrário de hoje que, face ao advento tecnológico, pouco trabalho têm – que consistia no boletim cultural duma associação recreativa que dava conta das suas andanças, progressos, passeios dos associados e tinha uma página dedicada à literatura onde, por norma, se publicavam poemas da autoria dos sócios.
Quem rendeu o Sr. Paiva não se apercebeu que a última coisa escrita não fazia parte do boletim, riu-se e agiu como de costume não mudando uma letra do que lá estava e bola p’ra frente, que se faz tarde, e ao revisor, dois dias depois, apenas lhe ocorreu pensar que há gente mesmo maluca!
A gente maluca apareceu lá na gráfica umas semanas mais tarde a pedir explicações sobre a razão pela qual o poema da autoria do senhor doutor fulano de tal, logo tinha que ser doutor, bolas!, que era sobre a paz no mundo e os efeitos do sol no coração dos apaixonados, tinha como título Adeus até amanhã, ó batata!
Batata? Isso era a assinatura do Paiva!
O dono da gráfica desfez-se em desculpas, Oh senhor doutor, por quem é, pois foi um engano, e o Paiva aqui não fez por mal, não sabemos como foi a batata parar no meio do amor, no meio, ou seja, a encabeçá-lo, pois, pois, fique descansado, vamos já fazer uma errata, é que é já, desculpe o senhor doutor, desculpe o senhor também na qualidade de director de tão distinta publicação, olhe, fique sabendo que é a que mais gostamos de fazer, de tantas iguais que aqui se fazem, iguais? que digo eu, parecidas, que esta destaca-se e de longe…
E assim se fez a errata que dizia:
Onde se lê Adeus até amanhã ó batata deve ler-se Os Desaguisados do Amor.
Como diria uma pessoa minha conhecida, é quase parecido.
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