- Sabes quando vais a conduzir e ficas encandeada com as luzes dos carros? Acontece-me o mesmo quando te ouço, a tua voz tem o poder de me encandear.
Quem não gostava que esta frase lhe fosse dirigida? Para além da beleza e do levantamento do ego que consubstancia, não consigo desligá-la dum episódio engraçado que aconteceu há meia dúzia de dias.
Ofereci o meu telefone para uma amiga ligar ao filho que é da mesma rede que eu, que tenho um tarifário que não pago chamadas para a minha rede, ao contrário dela que as paga. O Jorge não atendeu, concluímos a rir que estaria num momento em que as mães não devem intervir e fomos jantar juntas. Nessa noite gravei o número para uma qualquer eventualidade.
No dia seguinte a meio da manhã o telefone toca, verifico que é o Jorge e atendo:
- Olá Jorge, tudo bem?
Do outro lado chegou uma voz com sotaque carregado, de Bizheu, que disse ser o José e não Jorge mas afirmou que lhe ligaram daquele número no dia anterior ao fim da tarde. Percebi o engano, pedi desculpa e adeus.
Liguei à minha amiga a comentar a cena e a dizer-lhe que se tinha enganado e verificámos que ela tinha trocado um cinco por um dois.
Não tinha passado um quarto de hora quando o telefone voltou a tocar, anunciando outra vez o Jorge, que eu já sabia chamar-se José e que, duma assentada, disse o seguinte:
- Peço desculpa pelo incómodo, sinta-se à vontade para desligar o telefone quando quiser e juro-lhe que não mais voltarei a usar este número, mas tenho que lhe dizer que fiquei fascinado pela sua voz e não consigo deixar de pensar nela.
Uma mulher ouve uma coisa destas e fica muda, principalmente se não estiver habituada a ouvir elogios. A seguir engolimos em seco e dizemos ãh… obrigada. Se a experiência elogiosa fosse outra talvez deixássemos ouvir um riso maroto e a seguir disséssemos uma frase simpática que levasse o elogiante a continuar. Não foi o caso pois fiquei-me mesmo pelo ãh… obrigada.
O homem não se fez rogado e viu no meu garatujo linguista uma permissão para continuar o discurso e foi assim que fiquei a saber-lhe a profissão, as origens e as heranças, os gostos e fiquei a saber que é livre (sic).
Lembro-me de ter pensado que o telefonema se devia à minha voz que eu agora calava e aquilo parecia a gravação duma mensagem porque eu não dizia nada, parada no intervalo minúsculo entre o espanto e o rebentamento à gargalhada!
Por fim lá o interrompi, agradeci os elogios e a informação recebida e agora tenho um motivo de riso enorme com as minhas amigas.
Que cada um fique com os fascínios, que eu prefiro os encandeamentos.
Quem não gostava que esta frase lhe fosse dirigida? Para além da beleza e do levantamento do ego que consubstancia, não consigo desligá-la dum episódio engraçado que aconteceu há meia dúzia de dias.
Ofereci o meu telefone para uma amiga ligar ao filho que é da mesma rede que eu, que tenho um tarifário que não pago chamadas para a minha rede, ao contrário dela que as paga. O Jorge não atendeu, concluímos a rir que estaria num momento em que as mães não devem intervir e fomos jantar juntas. Nessa noite gravei o número para uma qualquer eventualidade.
No dia seguinte a meio da manhã o telefone toca, verifico que é o Jorge e atendo:
- Olá Jorge, tudo bem?
Do outro lado chegou uma voz com sotaque carregado, de Bizheu, que disse ser o José e não Jorge mas afirmou que lhe ligaram daquele número no dia anterior ao fim da tarde. Percebi o engano, pedi desculpa e adeus.
Liguei à minha amiga a comentar a cena e a dizer-lhe que se tinha enganado e verificámos que ela tinha trocado um cinco por um dois.
Não tinha passado um quarto de hora quando o telefone voltou a tocar, anunciando outra vez o Jorge, que eu já sabia chamar-se José e que, duma assentada, disse o seguinte:
- Peço desculpa pelo incómodo, sinta-se à vontade para desligar o telefone quando quiser e juro-lhe que não mais voltarei a usar este número, mas tenho que lhe dizer que fiquei fascinado pela sua voz e não consigo deixar de pensar nela.
Uma mulher ouve uma coisa destas e fica muda, principalmente se não estiver habituada a ouvir elogios. A seguir engolimos em seco e dizemos ãh… obrigada. Se a experiência elogiosa fosse outra talvez deixássemos ouvir um riso maroto e a seguir disséssemos uma frase simpática que levasse o elogiante a continuar. Não foi o caso pois fiquei-me mesmo pelo ãh… obrigada.
O homem não se fez rogado e viu no meu garatujo linguista uma permissão para continuar o discurso e foi assim que fiquei a saber-lhe a profissão, as origens e as heranças, os gostos e fiquei a saber que é livre (sic).
Lembro-me de ter pensado que o telefonema se devia à minha voz que eu agora calava e aquilo parecia a gravação duma mensagem porque eu não dizia nada, parada no intervalo minúsculo entre o espanto e o rebentamento à gargalhada!
Por fim lá o interrompi, agradeci os elogios e a informação recebida e agora tenho um motivo de riso enorme com as minhas amigas.
Que cada um fique com os fascínios, que eu prefiro os encandeamentos.
Ser livre! É um privilégio que nem todos os homens, e mulheres já agora, podem alcançar. Livre para amar as mulheres que nos apetecer, livre para escolher o caminho a seguir, livre para seguir o instinto ou o coração ou ... a voz que escutamos do outro lado. Aquela voz semelhante ao de uma Sereia que nos encanta que nos enfeitiça. o fascínio que certas vozes nos provocam é de um encanto estonteante. Oh, como deve ser bom ser livre...para seguir as vozes encantadoras que nos sussurram ao ouvido, nos fazem cócegas na barriga...cuidado Jorge que não se chama Jorge mas sim José, cuidado com os encadeamentos...
ResponderEliminarSer livre, é bem mais que um privilégio! Ser livre, não é uma regalia instituída, é um acto puramente interior! Ser livre, é o contrário de ser prisioneiro, é ter escolha, é acreditar, é assumir o acto e responder por ele. Ser livre, é saber dizer não a tudo o que nos faz mal e fazê-lo espontaneamente. Oh…..ser livre, é bom.. é saber ouvir o coração.
ResponderEliminar...e como saber tudo o que nos faz mal...? Como? Se o que nos faz mal é o que muitas vezes desejamos?
ResponderEliminarQuando a suprema dor muito me aperta,
se digo que desejo esquecimento,
é força que se faz ao pensamento,
de que a vontade livre desconcerta.
Camões
Na incerta vida estribam de um humano;
ResponderEliminardão crédito a palavras que são ventos;
choram depois as horas e os momentos
que riram com mais gosto em todo o ano.Camões, Claro