Ontem foi noite de Natal, com o menino Jesus na rua, e mais os Reis Magos, não três mas quase trinta, que as estradas hoje são melhorzinhas e vieram até doutros continentes, não com incenso, ouro e mirra mas com champanhe.
Os noticiários da noite centraram-se numa única notícia: o Benfica. Porém, tendo em conta a programação já determinada, a RTPN anunciava em rodapé o que devia estar a dar àquela hora e não falhou: Vida Animal. Não pude deixar de me rir porque as imagens mostravam uma espécie de aldeia dos macacos, com aparentes símios a treparem pelo Marquês de Pombal, quem sabe a arrepelarem-lhe a cabeleira! A fuga do Zoo era colectiva e de todas as partes do país chegavam imagens semelhantes!
Convém dizer que não tenho clube e mora lá em casa um grande benfiquista. Aquilo que vi, provavelmente, ter-se-ia repetido com qualquer outro clube.
No Marquês, a gigante imagem de Bento XVI, a sorrir de mãozinha levemente levantada, parecia abençoar o acontecimento.
Os adeptos choravam, gritavam, guinchavam, riam, havia manifestações para todos os gostos. Havia pais que não tinham sido tão felizes nem no nascimento dos filhos; havia filhos que não manifestaram metade da emotividade quando os pais morreram; havia jovens que não empregam um décimo da energia ali gasta em estudar; havia desempregados que esqueceram a sua situação mediante tão grande momento; havia mães que esqueceram que tinham filhos; os polícias sorriam contaminados e não agiam (fazer o quê?) perante a macacada a saltar das janelas dos carros, empoleirados nos tejadilhos, no seu interior a imaginarem-se águias, das grandes, imperiais, quais milhafres, quais quê!
Que alegria, que contentamento, que não chegava a ser metade se tivessem ganho o euromilhões. Ganhar a lotaria ou quejando é um acto isolado, cuja partilha depende da boa disposição do vencedor. Mas a vitória do clube é algo colectivo, partilhado com estranhos e desconhecidos que, minutos antes levariam um murro se nos apitassem, mas agora, agora é diferente, somos todos campeões, e tanto que sofremos, cada qual no seu casulo T2, onde a mesa da sala nos obriga a encolher a barriga para passarmos para o sofá e nos sentarmos frente à televisão onde se inventam novos impropérios para chamar ao árbitro e aos jogadores do outro clube.
A RTP dividia-nos o écran da televisão em quatro para nos mostrar em simultâneo o máximo de imagens. A SIC não satisfeita com o trabalho dos repórteres pedia aos telespectadores que mandassem mensagens e imagens que demonstrassem a sua visão, com certeza única e ainda não divulgada, para partilhar com o país. Havia jornalistas montados em motas que perguntavam a várias pessoas a quem se devia esta vitória em particular e as respostas variavam, não porque uns achassem que era o treinador e outros a atribuíssem aos jogadores, mas simplesmente porque não ouviam a pergunta, ou não a percebiam, face ao êxtase em que se encontravam, que os inibia de agirem como pessoas, daí a perspicácia da RTPN...
No meio de tudo lá apareciam alguns cuja alegria não se centrava na vitória do seu clube e sim na derrota dos demais e ostentavam bandeiras e cachecóis com frases depreciativas sobre outros clubes. Estes são os macacos de rabo cortado, não provenientes de alguma história infantil, mas porque a evolução das espécies os fez assim, e o que lhe falta já não lhe nasce, pelo menos nos próximos milhões de anos que isto da evolução é um processo muito lento e, como o provam as suas atitudes, pensam ao contrário ou seja, precisamente com o que lhes falta e face a isto não podemos esperar outros comportamentos que não estes.
Por motivos alheios à minha vontade, por volta das dez da noite tive que sair de casa. Saí com medo. Os carros passavam à velocidade da luz, com micos e saguis pendurados das portas, parecendo prontos a saltar sobre quem passava. Optei por levar o carro para fazer 200 metros, muito devagar com os vidros fechados. O barulho era ensurdecedor em casa, na rua multiplicava-se. Hoje devem estar todos roucos.
Regressada a casa a festa continuava com o meu benfiquista deitado no sofá da sala meio a dormir. As caras dos adeptos sucediam-se numa euforia vibrante para aparecerem na televisão, empurrando-se uns aos outros, para mostrar as cáries dentárias e mais problemas orais.
O meu benfiquista foi para a cama, vencido pelo sono ainda não eram onze horas. Estava feliz pelo seu clube mas não perdeu a razão e isso dá-me um grande orgulho.
Os noticiários da noite centraram-se numa única notícia: o Benfica. Porém, tendo em conta a programação já determinada, a RTPN anunciava em rodapé o que devia estar a dar àquela hora e não falhou: Vida Animal. Não pude deixar de me rir porque as imagens mostravam uma espécie de aldeia dos macacos, com aparentes símios a treparem pelo Marquês de Pombal, quem sabe a arrepelarem-lhe a cabeleira! A fuga do Zoo era colectiva e de todas as partes do país chegavam imagens semelhantes!
Convém dizer que não tenho clube e mora lá em casa um grande benfiquista. Aquilo que vi, provavelmente, ter-se-ia repetido com qualquer outro clube.
No Marquês, a gigante imagem de Bento XVI, a sorrir de mãozinha levemente levantada, parecia abençoar o acontecimento.
Os adeptos choravam, gritavam, guinchavam, riam, havia manifestações para todos os gostos. Havia pais que não tinham sido tão felizes nem no nascimento dos filhos; havia filhos que não manifestaram metade da emotividade quando os pais morreram; havia jovens que não empregam um décimo da energia ali gasta em estudar; havia desempregados que esqueceram a sua situação mediante tão grande momento; havia mães que esqueceram que tinham filhos; os polícias sorriam contaminados e não agiam (fazer o quê?) perante a macacada a saltar das janelas dos carros, empoleirados nos tejadilhos, no seu interior a imaginarem-se águias, das grandes, imperiais, quais milhafres, quais quê!
Que alegria, que contentamento, que não chegava a ser metade se tivessem ganho o euromilhões. Ganhar a lotaria ou quejando é um acto isolado, cuja partilha depende da boa disposição do vencedor. Mas a vitória do clube é algo colectivo, partilhado com estranhos e desconhecidos que, minutos antes levariam um murro se nos apitassem, mas agora, agora é diferente, somos todos campeões, e tanto que sofremos, cada qual no seu casulo T2, onde a mesa da sala nos obriga a encolher a barriga para passarmos para o sofá e nos sentarmos frente à televisão onde se inventam novos impropérios para chamar ao árbitro e aos jogadores do outro clube.
A RTP dividia-nos o écran da televisão em quatro para nos mostrar em simultâneo o máximo de imagens. A SIC não satisfeita com o trabalho dos repórteres pedia aos telespectadores que mandassem mensagens e imagens que demonstrassem a sua visão, com certeza única e ainda não divulgada, para partilhar com o país. Havia jornalistas montados em motas que perguntavam a várias pessoas a quem se devia esta vitória em particular e as respostas variavam, não porque uns achassem que era o treinador e outros a atribuíssem aos jogadores, mas simplesmente porque não ouviam a pergunta, ou não a percebiam, face ao êxtase em que se encontravam, que os inibia de agirem como pessoas, daí a perspicácia da RTPN...
No meio de tudo lá apareciam alguns cuja alegria não se centrava na vitória do seu clube e sim na derrota dos demais e ostentavam bandeiras e cachecóis com frases depreciativas sobre outros clubes. Estes são os macacos de rabo cortado, não provenientes de alguma história infantil, mas porque a evolução das espécies os fez assim, e o que lhe falta já não lhe nasce, pelo menos nos próximos milhões de anos que isto da evolução é um processo muito lento e, como o provam as suas atitudes, pensam ao contrário ou seja, precisamente com o que lhes falta e face a isto não podemos esperar outros comportamentos que não estes.
Por motivos alheios à minha vontade, por volta das dez da noite tive que sair de casa. Saí com medo. Os carros passavam à velocidade da luz, com micos e saguis pendurados das portas, parecendo prontos a saltar sobre quem passava. Optei por levar o carro para fazer 200 metros, muito devagar com os vidros fechados. O barulho era ensurdecedor em casa, na rua multiplicava-se. Hoje devem estar todos roucos.
Regressada a casa a festa continuava com o meu benfiquista deitado no sofá da sala meio a dormir. As caras dos adeptos sucediam-se numa euforia vibrante para aparecerem na televisão, empurrando-se uns aos outros, para mostrar as cáries dentárias e mais problemas orais.
O meu benfiquista foi para a cama, vencido pelo sono ainda não eram onze horas. Estava feliz pelo seu clube mas não perdeu a razão e isso dá-me um grande orgulho.
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