segunda-feira, 6 de maio de 2013

Dia do Pai

O Dia da Mãe foi essencialmente Dia do Pai.
Logo de manhã não houve missa como é costume com os meus pais, eu não fui à praia, não caminhei ao longo do paredão, não tranquilizei o espírito e cansei o corpo como é habitual. Deixámos o meu pai no Hospital de Santa Marta para ser operado às carótidas nas quais tem uma obstrução de 95%. É obra.
A minha mãe e eu a misturar tristeza e preocupação, ele habituado, mais uma, já lhe perdeu a conta, são para cima de cinquenta cirurgias.
Para entrar há que fazer um registo novo. As enfermeiras e enfermeiros, médicas e médicos vão passando e cumprimentando-o como se ele estivesse no átrio de um hotel onde tinha decidido passar umas noites. A enfermeira que lhe processa a entrada discute com ele problemas pessoais, pede opinião, fica feliz por ele lá estar para se aconselhar com ele, psicólogo, padre, médico também, amigo acima de tudo.
Assisto a tudo com os braços apoiados no balcão, somos só nós, é Domingo de manhã, até parece que abriram o Hospital para ele, para além do pessoal médico, mais ninguém. Intervenho apenas na parte em que a senhora pergunta quem é a pessoa de contacto e quer confirmar o telemóvel, sou eu, sim, é tudo igual ao da última vez.
Com receio que lhe roubem o telefone ele não quer ficar ligado ao mundo. Depois do almoço não lhe podemos dizer que o Duarte ganhou o jogo e marcou dois golos, que almoçámos em minha casa um almoço de Dia da Mãe com um puré de batata doce e pêra que eu vira alguém fazer na televisão na noite anterior e que estava mesmo bom. A meio da tarde não lhe podemos dizer que insistimos em ir lanchar a um sítio diferente com a minha mãe mas que ela não quis, angustiada, assim como não quis ficar a dormir na nossa casa. Já de noite não lhe pudemos dizer boa noite.
Hoje de manhã fui dizer-lhe bom dia esperando encontrá-lo a recuperar da anestesia. Estava composto com o fato da cirurgia, de azul cinema, com fome, mas aguardando que uma urgência que tinha chegado de madrugada se despachasse, para ser ele a dar a volta no carrossel da mesa de operações. As enfermeiras e demais pessoal deixaram-me falar com ele um minuto. Foi bom.
Agora faça o que fizer, estou na sala de espera e esperar é das coisas mais insuportáveis que há. Quando já sabemos o que nos espera, aguenta-se melhor, como por exemplo eu esperar sempre secretamente que o pai do meu filho me parabenize no Dia da Mãe, coisa que não acontece. O Duarte ofereceu-me um CD de música, entregue dois dias antes pois, sabendo que ia passar algumas horas a conduzir, decidiu entregá-lo de avanço para que o pudesse usufruir.
Em dia de cirurgia tudo o que faço tem um enorme risco associado, como se as minhas acções estivessem, eles próprias, na mesa de operações. Esperemos.

2 comentários:

  1. Calma, «quem espera», não obrigatoriamente «desespera»

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  2. Concentro-me no resultado final, esperando ser de alívio. Há sempre espera :(

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