Boccaccio, Marquês de Sade, Fiódor
Dostoievski, O. Henry, Jerome K. Jerome, Saki, P. G. Wodehouse, Enrique Jardiel
Poncela, Ring Lardner, Dezső Kosztolányi, James Thurber, Boris Vian, Mario
Benedetti, Woody Allen, Raymond Queneau e Alexandre O’Neill. O que tem toda
esta gente em comum?
São deles os textos da Ficções, Revista de Contos de Humor,
editada pela Visão nos idos de 1993, que descobri há uns dias e acabo agora de
ler.
Dos dezasseis contos, onze são escritos na
primeira pessoa o que me transporta aquela sensação irmanada de certa ilusão,
eu sei, que alguns são verdadeiros.
Não podem ser? É por isso que isto se chama
Ficções? De certeza? Vamos perguntar aos autores, vamos? Pois, bem me parecia.
Será o humor mais fácil no eu? A proximidade que se cria num relato
em primeira mão, que pressupõe o imediatismo do testemunho, cria maior
credibilidade? O riso vem mais depressa porque imaginamos aquela figura como
protagonista daquela topografia cómica? Não sei, mas que resulta, resulta e ler
O’Neill a dizer que já explicou que não se chamava Aníbal e sim O’Neill e o interlocutor a insistir no Aníbal é delicioso.
A reunião de todos estes nomes, alguns dos
quais desconhecidos para mim, foi propiciadora de excelentes momentos pois que
cada um tem o seu compasso de leitura, e induz-nos a ler em ritmos diferentes, uma
polca para Há lugar para dois do
Marquês de Sade, uma ópera para as Confissões
de um humorista de O. Henry, Jerome K. Jerome em step com o seu O custo da bondade, uma rumba para A sociedade de acidentes de Ukridge de
P. G. Wodehouse, um fado para Um amor
oculto de Enrique Jardiel Poncela, Ring Lardner em samba com Falta-me o ar!, um óbvio blues em O tradutor cleptómano de Dezső
Kosztolányi, um inevitável jazz para Woody Allen e A puta de Mensa, entre outros estilos musicais.
Ler este pequeno volume no Metro dá-nos a
sensação de mudar de roupa a cada estação, de beijar vários passageiros que
entram e saem, todos bem-dispostos e galhardos.
Deixo aqui uma sugestão, sobre a qual
quero depois os devidos direitos: se as bulas dos medicamentos, xanaxes e
quejandos, forem substituídas por textos deste gabarito, ninguém precisará de
engolir uma só drageia e povoam-se todos os lugares de leitura de imensas gargalhadas.
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