sexta-feira, 7 de março de 2014

Luz de Almeida

Cumpre-me abrir com um aviso: isto não é uma apologia à revolta, ao terrorismo, nem sequer ao ser do contra. Alba, que não a de Lorca, mas que talvez pudesse ser, foi recentemente condenada por uma acção online que me fez pensar e muito.
Estou a ler, lentamente mas estou, uma edição de 1990 da Alfa, de autoria de José Brandão e que tem por título Carbonária: o exército secreto da República.
Não se percebe bem se as pessoas queriam de facto a República, mas percebe-se que queriam mudar: D. Carlos recebia um conto de réis de vencimento por dia e, juntamente com o resto da família real, arrombava o erário público em quinhentos e vinte contos anuais, muito superiores aos trezentos da família real norueguesa ou aos cento e vinte da dinamarquesa. Assim, não era de estranhar que se dissesse que por muito menos rolou no cadafalso a cabeça de Luís XVI.
A situação era de tal forma que Raul Brandão, a páginas 115 das suas Memórias, edição da Renascença Portuguesa de 1983, afirma que se ouvia dizer "Venha tudo, venha o pior, venha o diabo do inferno que nos livre disto".
O cérebro da Carbonária era Luz de Almeida, de quem já tinha ouvido falar, tal como do barbudo Buiça ou de Alfredo Costa; ora, diz o povo que quem diz a verdade não merece castigo e assim se passa comigo, que sorri ao saber da profissão de Luz de Almeida: bibliotecário.
A rede que conseguiu montar, diz-se que conhecia todos os primos carbonários, é invejável. Falo do ponto de vista profissional, é claro, nós bibliotecários somos muito da web, está bem de ver.
Que faria este homem na era das redes sociais? A sua discrição levá-lo-ia provavelmente a montar a rede, tal como fez, a usar a teia de conhecimentos e a planear o futuro, de forma a poder vislumbrar-se uma luz ao fundo do tunel. 

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