quinta-feira, 1 de agosto de 2013

O Sexo, a Cidade e a Amizade

As quatro raparigas de O Sexo e a Cidade são uma espécie de Beatles para uma geração diferente.
A idolatria e a veneração a que são votadas põe-me a pensar se algum dia lhes passou pela cabeça, ao criador, desde logo, que aquela marca tivesse a força que ganhou ou a influência que ainda tem. As próprias actrizes dificilmente descolam daquelas personagens e nem todos lhe sabem os nomes, mas conhecem de ginjeira a Carrie, a Samantha, a Miranda ou a Charlotte. Do Big, pois, nem se fala...
A nível da amizade tudo aquilo consubstancia um sonho que, como qualquer sonho, para ser sonho, nunca se pode realizar, caso contrário deixa de ser sonho. 
A amizade delas é posta à prova e sobrevive sempre, sempre. Zangam-se mas na hora H fazem as pazes. Precisam umas das outras, como um puzzle que fica inacabado mesmo que falte uma só pécinha. 
Já vivi quartetos que pensei serem de amizade onde as miúdas de Nova Iorque acabam por ser projectadas, mas que se desfizeram em pouco tempo. 
Um deles acabou ainda hoje estou para saber porquê, outro terminou devido a intrigas e mal entendidos; em Nova Iorque isso é ultrapassado mas em Portugal fica para sempre, não havendo lugar a esclarecimentos, conversas, essas coisas. Não saberemos falar? Queremos que nos ouçam, mas não gostamos de ouvir. 
O último quarteto acabou devido a outro mal entendido entre duas pessoas. Dou-me bem com ambas, assim como com a quarta pessoa e sinto uma tristeza enorme por haver falta de entendimento entre elas. Porém, ambas continuam a gostar da outra, pensam nela e preocupam-se, eu sou testemunha. 
Foi uma das grandes tristezas deste ano que agora acaba - Agosto é fim do ano - e apesar de ter promovido encontros e fomentado explicações, sinto sempre que poderia ter feito mais. 
Tal como a laranja vale mais que a soma dos gomos elas as duas juntas eram especiais. As cumplicidades ficaram, as conversas sobre todos os assuntos também, mas a três ou a duas, nunca mais a quatro.
Em O Sexo e a Cidade interessa-me sobretudo esta coisa da amizade, da preocupação, do tempo que despendem umas com as outras, sim, porque as relações em amaricano e em portuga não se passam da mesma forma, acho eu, pelo menos não vejo relacionamentos tão rapidamente consumados e tão rapidamente descartados ou, para além de surda, estarei cega?
Os pequenos almoços com amigas também não são regra por estas bandas; não sou fã de moda e gosto de fazer as minhas modas, tendo no mercado do Algueirão as avenidas fashion do mundo inteiro e sendo as compras ditadas pelo preço que me pedem; Manolos tenho dois: o meu ex-marido e o meu sobrinho, este último acumula um Maria, chique, chique, chique.
Mas aquela entrega mútua, aquela preocupação, o espaço que todas têm para debitar assunto e aconselhar as outras, as perguntas que fazem, porque se interessam, as agendas que são marcadas em função das ajudas que têm que dar umas às outras, tudo isso me causa inveja.
Não há assunto, probleminha sem tamanho, que não mereça o cuidado das outras e isso sim, completa-me. O Sexo e a Cidade pode ser sobre sexo numa cidade que nunca dorme - apropriado - mas é acima de tudo sobre amizade, a única coisa que é transversal do primeiro ao último episódio, aquilo que fica, aquilo que faz da série aquilo que tem sido, aquilo que importa.
Não há amizades assim. Os limites para as conversas são sempre visíveis, as fronteiras entre a preocupação e a metedice pairam no ar; não há entrega total. Devia haver? Acho que sim. Se não forem as amigas a dizerem-me as coisas difíceis quem será?
A manutenção de segredos é critério para uma amizade longa e duradoura entre duas ou mais pessoas? Não me parece. A partilha, essa sim, deve ser, não promovida, mas espontânea, natural, essencial, necessária. Falo da partilha de opiniões, de problemas, de dúvidas, não de pessoas, bem entendido.
Quando as pessoas se afastam e se mantêm afastadas é porque não sentem falta dos outros, ora essa falta da falta não será sinónimo que a amizade afinal não era o que parecia? Quando o afastamento consubstancia um aparente alívio é porque, não só alguém não sente a falta do outro, como estava farto. Há espaço para fartura na amizade? Será a amizade, afinal, um relacionamento com as características dos relacionamentos amorosos? A amizade tem limites? Se a amizade for verdadeira terá fim?
Sou aquilo que se chama uma medrosa em termos de relacionamentos amorosos, tenho medo de me magoar, medo de confusões, medo de ver outras escovas de dentes ao lado da minha, medo de perder espaço, medo. Mas na amizade sou uma mãos largas, de vistas largas, aceito tudo e acho que é na amizade que a sinceridade impera: quanto mais amiga sou mais digo tudo o que penso, mais me exponho, mais aceito que me digam seja o que for. Discuto, mas há sempre um terreiro enorme disponível para o concílio.
Não me choca que um par amoroso se desfaça, fico triste se gostava das pessoas, mas não fico abalada, porém, fico meia perdida se vejo amizades rasgadas, como livros mutilados. Para alcançar harmonia e equilíbrio até as amizades entre outras pessoas me fazem falta. As minhas então, preenchem-me mais que pão para a boca.

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