domingo, 18 de agosto de 2013

As janelas deviam ser sempre viradas ao mar

Cem anos que eu viva não posso esquecer-me
Daquele navio que eu vi naufragar
Na boca da Barra tentando perder-me
E aquela janela virada pró mar

Sei lá quantas vezes desci esse Tejo 
E fui p´lo mar fora com a alma a sangrar
Levando na idéia os lábios que invejo
E aquela janela virada pró mar

Marinheiro do Mar Alto 
Olha as ondas uma a uma
Preparando um assalto
P´ra fazer teu barco em espuma

Repara na quilha bailando na crista 
Das vagas gigantes que o querem tragar
Se não tens cautela não pões mais a vista
Naquela janela virada pró mar

Se mais ainda houvesse mais fortes correra 
Lembrando-me em noites de meio luar
Dos olhos gaiatos que estavam à espera
Naquela janela virada pró mar

Mas quis o destino que o meu mastodonte 
Já velho e cansado viesse encalhar
Na boca da barra e mesmo defronte
Naquela janela virada pro mar

Marinheiro do mar alto 
Olha as ondas uma a uma
Preparando um assalto entre montes de alva espuma
Por mais que elas bailem numa louca orgia
Não trazem desejos de me torturar
Como aquela doida que eu deixei um dia
Naquela janela virada pró mar

Sem comentários:

Enviar um comentário