sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Estou aqui, seja o aqui onde for

Não é fácil haver uma pessoa que conjugue estas duas características: ser da nossa família e merecedor da nossa profunda amizade.
Normalmente as famílias não se escolhem e é uma lotaria gostarmos das pessoas. Não percebo porque é que o sangue cria obrigatoriamente laços que supõem sacrifícios para serem mantidos. Por outro lado, os maridos e mulheres dos nossos irmãos e irmãs, primos e primas, têm que lhes agradar  a eles e não a nós, os votos de matrimónio foram entre eles e nós só papámos o almoço se é que fomos convidados.
Grandes visitas, férias em família, almoçaradas e jantaradas, datas festivas, são situações que normalmente acabam em grande cansaço, porque tivemos que aturar - só o verbo... - este ou aquele com quem inventámos assunto, porque nada há em comum para desenvolver.
Felizmente há excepções! E uma dessas excepções - que eu adoro - está doente.
Soube a notícia quando secava o cabelo e só percebi que estava a queimar a mão quando a dor se tornou violenta. Foi a minha mãe que me contou e lembro-me que sustive a respiração para tentar chegar a um qualquer porto de abrigo, uma rocha, um bocado de madeira onde me apoiasse, mas de modo que ela não percebesse.
Com a queimadura, que ainda subsiste, continuei a secar o cabelo sem perceber de onde vinha a força para manter os braços elevados.
Como acredito no acreditar com uma confiança sem limites, sei que tudo vai acabar em bem, mas até lá, o caminho é cheio de buracos e pedregulhos que é preciso tirar da frente e ele tem que estar acompanhado. Ele e não só, a família dele também, pois sobre eles recairá a tarefa diária de tentar compor o percurso da forma que melhor lhe facilite a vida. É aí que entram os figurantes, eu incluída: ajudar sem imposições, dar disponibilidade sem pressões, estar presente de forma mais ou menos invisível.
Quero participar na escrita de todos os capítulos e chegar ao final percebendo que o drama afinal não era dramático, que foi apenas a linha da vida que se baralhou e decidiu dar umas curvas que não estavam nos nossos planos.
Há uns meses uma amiga soube que o diagnóstico de um tumor maligno tinha sido mal feito e afinal era benigno. Eu estava com ela na consulta quando a má notícia lhe foi dada e foi como levar com uma pá de aço na cabeça, doeu uma dor dolorosa insuportável, mas outros valores se levantavam e foi preciso continuar a respirar.
O contraditório criou-me uma felicidade milhões de vezes maior que a dor sentida inicialmente, prova que as coisas boas têm sempre mais força. Com este familiar vai acontecer o mesmo e daqui a tempos quando falarmos das quimio, radio e não sei quantas mais terapias vamos fazê-lo como se contássemos um pesadelo. Aí, diremos de forma infantil, mas feliz e confiante, já passou... 

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