segunda-feira, 25 de abril de 2011

Say 'Cheese'!

Deve ser o tempo que me põe meia esquisita e sem sono. Acordei bem cedo e, imagine-se, fui arrumar papéis. No fundo duma mala azul e no meio de um pacote de lenços por usar, um lenço usado, dois tampões higiénicos, dois bilhetes de cinema e uma factura do McDonald's, estava um rolo fotográfico.
Há algum tempo encontrei uma máquina fotográfica sem que nada me indicasse a sua propriedade. Revelei o rolo e fiquei com um monte de fotografias duma janela na mão. Conclui que alguém andava a espiar outro alguém pois a janela era sempre a mesma, as fotografias tinham sido tiradas a várias horas do dia, o que se via pela luz, e havia sempre um vulto que não se percebe se é homem ou mulher, mas é uma pessoa indubitavelmente. Fiquei com as fotografias e com a máquina que ainda mora algures no meu gabinete de trabalho.
Face à descoberta, vesti-me e saí com a intenção de revelar o que escondia naquele cilindro de plástico e metal.
Primeiro fui tomar o pequeno almoço com os meus pais e com os amigos deles e assisti à zaragata do costume pois todos me querem pagar o pequeno almoço. Ora eu não tinha fome, mas cai na asneira de dizer que ainda não tinha comido! Então, para evitar que todos juntos me tapassem o nariz e me enfiassem uma meia de leite pela boca abaixo, lá mastiguei metade dum pão. A verdade é que ontem não almocei nem jantei: cheguei a casa depois do almoço sem fome e quando fui dar os parabéns à Suzy, que fazia anos, e ela me perguntou se já tinha jantado é que me lembrei que também me tinha esquecido. Nem as insistências dela conseguiram que a fome espreitasse de dentro de mim e, para ela não ficar triste, bebi um café e um copo de água! Antes de me deitar bebi um iogurte geladinho e pensei que me apetecia tomar banho naquilo; mas depois fiz as contas ao dinheiro e desisti!
O local mais próximo onde pensei que atingiria o meu objectivo é o Forum Sintra, uma espécie de réplica da prisão do Linhó, ali bem perto: é todo metalizado, corredores estreitos e escuros, com umas clarabóias lá bem no alto para as pessoas não fugirem. Numa palavra: horrível. Em duas: de fugir!
Mas valores mais altos se levantavam e eu senti-me o Capuchinho Vermelho a entrar na floresta, cheia de medo e com a respiração alterada. Mas tinha que ser.
Estacionei numa ponta para me ser mais fácil recordar onde estava o carro, mesmo que fique a quilómetros da entrada. Entrei na prisão e perguntei por uma loja de fotografia; ficava a 10 metros! Porém, só daqui a uma semana é que me davam as fotografias. Uma semana? Eu pensei que fosse uma hora! Nada disso, agora centralizavam as revelações de rolo no Porto e tinham que mandar para lá, e esperar que as devolvessem. Então não quero!
A caminhar pelos longos corredores, sem parar diante de lojas com roupa linda que nenhuma me serve, nem sequer frente a qualquer sapataria, o que é um feito gigantesco para mim, fui à Worten onde me disseram imediatamente que sim, que tinham serviço de revelação imediata! Sorri e segui o rapaz, mas foi sorriso de pouca dura pois quando ele me pediu o cartão e eu franzi os olhos a dizer, qual cartão?, é que ele explicou que só revelavam de telemóvel ou de máquina com cartão, não de rolo. Obrigadinha, sim?
Nesse momento já sentia falta de ar e tinha uma ligeira tontura. Os centros comerciais são bichos com uma penugem qualquer à qual sou alérgica e comecei a sentir-me mal. Precisava rapidamente dum antídoto!
- Por favor, onde é que há aqui uma livraria?
Quatro perguntas iguais a quatro pessoas diferentes deram como resultado dois não sei, um a Bertrand ainda não abriu e, finalmente, um vá em frente e vire no C&A e encontra a Book.it.
Lá cheguei, já com a vista meia enevoada e entrei. Mexi nos livros, sentei-me no chão, acalmei a respiração, comprei um marcador lindo de morrer e, já recuperada, preparei-me para sair, a correr em direcção ao carro.
Não corri, mas dei grandes passadas como se um guarda prisional viesse atrás de mim e eu não quisesse chamar a atenção. O coração batia como maluquinho e finalmente cheguei ao carro.
A seguir ao almoço, a ver se não me esqueço dele, vou procurar outra loja de fotografia, ou seja, tenho que ir a outro centro comercial. Já decidi que vou convidar alguém para vir comigo, caso contrário posso ter uma apoplexia antes de ver as fotografias.

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