terça-feira, 19 de julho de 2016

#pokemongo ou como voltámos a ser nómadas!

Leio que a Nintendo já vale mais que a Sony à pala do Pokémon Go. Basta jogar para se perceber porquê.
Há muito, muito tempo, quase na altura em que os animais falavam, também eu colecionava cromos que comprava em carteirinhas, trocava com amigos e ia preenchendo cadernetas. Porquê? Porque sim, à imagem de Mallory.
Até agora passei imune a todos os tipos de jogos de computador e telemóvel, excepção confirmada por uns joguitos de cartas, banais, em momentos aborrecidos.
O meu filho era jovem e pedia para fazermos corridas de carros ou partidas de futebol, exasperando-se comigo, não pela minha impaciência, mas pela minha completa inaptidão, provocando acidentes a cada instante e levando os jogadores a marcar golo na própria baliza. Vários anos mais tarde, quando todos andavam a alimentar renas, a juntar fardos de palha e a tratar de galinhas, gozei com a comunidade de amigos e conhecidos que pedia ajuda para tratar das quintas ou das propriedades e que criavam inveja nos outros com o anúncio dos níveis alcançados.
Há dias o meu filho instalou o Pokémon Go no meu telefone e transformei-me numa caderneta de cromos!
A aplicação contraria tudo o que já se disse sobre jogos na actualidade, na perspectiva da inacção física dos jogadores: voltámos a ser nómadas!
As ruas enchem-se de pessoas com telefones na mão, ou melhor, dispositivos de captura, e caminham horas a fio em demanda de mais 'cromos', parando nas pokéstops, arrecadando ovos ou pokébolas, sozinho ou em grupo, com uma vertente de socialização ao vivo e a cores que permite saber mais, partilhar dicas e formas de captura.
Todos adoramos a ideia de estender a conquista em museus, castelos, sítios arqueológicos, etc., porém, com a sombra dos últimos acontecimentos terroristas a pairar sobre nós, a 'teoria da conspiração' vem logo ao de cima, esperando que não seja possível encaminhar jogadores em massa para locais de captura que se revelem uma armadilha.
A tecnologia surpreende sempre mas a ficção tornada realidade ao alcance de tantos, não é fácil de conseguir. A realidade aumentada na mão de milhões foi uma expectativa atingida e ultrapassada.
No próximo passo replica-se o quotidiano de Caprica? Esta série, que me parece ter passado despercebida, merece ser revista com atenção, não só pelo cenário de fanatismo religioso, como pela criação de avatares que subsistem para além da morte física de quem personalizam. Rumo à imortalidade? Não sei, mas sei que capturar pokémons pode ser uma acção divertida, feita com amigos, como quem programa um piquenique.
Tentar perceber como a coisa funciona não é querer estragar o truque de magia, antes pelo contrário, é parabenizar os cérebros que tiveram agilidade de criação de uma coisa espectacular, viciante também, sem dúvida e sem concorrência, por ora.
Estamos perante uma revolução no estar e no agir de jogadores, ziliões de jogadores, que levantam o rabo dos sofás e vão fazer o que a saúde pública sugere: caminhar. Vêmo-los saírem das suas tocas e exercitarem-se sozinhos ou com companhia, nem que seja o cão com ar estafado que no Facebook nos diz que o dono, ao contrário do que fazia, já o levou a passear hoje meia dúzia de vezes, e se pergunta, mas que diabo é um Pokémon?
Não é só jogar, é ser parte do jogo, como algumas experiências com recurso a óculos de RA já permitiam, mas dentro de portas. Agora as portas abrem-se para jovens e menos jovens, num Verão  que será lembrado não pelas altas temperaturas, mas como aquele em que o Jardim Pokelógico abriu as portas e deixou os animais à solta para que os pudessemos apanhar.
Isto ajuda-nos a aguentar a espera pelo tão ansiado Inverno - nunca foi tão esperado! - da Guerra dos Tronos! Tenho para mim que não tardará que possamos também sentarmo-nos do Trono de Ferro...

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